Pitaco Cultural https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br Suas impressões sobre filmes, peças, música e comida Tue, 07 Dec 2021 18:35:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Como o menino que era caixa de supermercado criou um ateliê para valorizar a cultura negra https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/03/30/como-o-menino-que-era-caixa-de-supermercado-criou-um-atelie-para-valorizar-a-cultura-negra/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/03/30/como-o-menino-que-era-caixa-de-supermercado-criou-um-atelie-para-valorizar-a-cultura-negra/#respond Tue, 30 Mar 2021 18:05:27 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/ateliê-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1270 O pitaco de hoje é de Priscila Camazano, repórter da Folha que trabalha com homepage e mídias sociais. Priscila narra abaixo a história do Ateliê Afro Cultural, um espaço em SP que oferece oficinas com foco na valorização e memória da cultura negra.

Ela conta que ficou emocionada com o discurso contra o racismo que o idealizador do projeto fez em um programa de televisão, e que ficou curiosa para saber mais sobre a história do ateliê. Confira.

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Sankofa é um símbolo africano representado por um pássaro que volta a cabeça à sua cauda. Ele mostra que nunca é tarde para voltar e apanhar aquilo que ficou para trás. E assim como essa filosofia do povo Akan, de Gana, o Ateliê Afro Cultural, em São Paulo, nasceu com o objetivo de resgatar a cultura e memória negras do Brasil.

Idealizado por Wilson Pedro de Oliveira, 35, e Nathália Costa Santos Monteiro, 35 –conhecidos como Wil e Nathy–, o espaço educativo utiliza literatura, música e trabalhos artísticos manuais para ensinar a história afro para crianças e adultos.

O casal ganhou visibilidade após participar do programa Caldeirão do Huck, na rede Globo, no dia 19 de março –véspera do Dia Internacional Contra a Discriminação Racial. Antes de anunciar para Nathy que sairiam do quadro “The Wall” com o prêmio de R$ 121 mil, Wil fez um discurso emocionante contra o racismo.

“Nós somos oriundos de um povo que é capaz de sorrir, mesmo estando de barriga vazia. Primeiro, nós fomos arrancados de nossas pátrias. Fomos amarrados, acorrentados, torturados, humilhados, arrastados… Já levamos 80 tiros, já levamos 111 tiros. E as balas perdidas sempre nos acham. Estamos perdendo as nossas crianças negras. Aí eu pergunto: por quê? Pra quê? E até quando?”.

Para tentar reverter essa triste realidade, o projeto dialoga com os pequenos negros e não-negros. “As crianças de hoje vão fazer toda a diferença no amanhã. E eu quero que o meu filho cresça em um mundo mais igualitário e com mais oportunidades”, diz Nathy.

Em janeiro de 2020, o ateliê ganhou uma sede no bairro da Casa Verde, zona norte da capital paulista. Nos fundos da casa alugada, uma edícula, o casal montou o espaço para as atividades. Livros, instrumentos e materiais para oficinas de arte foram organizados em um ambiente carregado de memória ancestral.

Com a pandemia, as atividades presenciais foram suspensas, mas o ateliê, sem fins lucrativos, se mantém. Os poucos meses antes da quarentena serviram para estruturar o projeto que começou quando Wil tinha 18 anos.

Na época, ele trabalhava como operador de caixa em um supermercado. Um senhor, impressionado com seu timbre de voz, grave e potente, se apresentou –chamava-se Roberto Fabel, professor de canto lírico–, e lhe entregou um cartão.

A partir daquele momento, aulas de canto e apresentações de ópera no Theatro Municipal passaram a fazer parte da rotina de Wil. Até um curso de teatro, “para se soltar mais”, ele fez. Mas ainda sentia falta de algo –Wilson gostava do canto lírico, mas era o samba de Candeia e Cartola e o rap dos Racionais Mc’s que o emocionavam mais.

Em uma viagem para Salvador que fez a trabalho, conheceu o Bando de Teatro Olodum. Encantou-se com a apresentação da peça “Sonho de uma Noite de Verão”, de Shakespeare. O elenco de atores negros, usando dreadlocks e black powers, o deixou fascinado, diz.

Quando voltou para São Paulo, foi apresentado à história de Abdias do Nascimento, de quem até então nunca tinha ouvido falar. Passou a pesquisar os grupos de teatro influenciados pelo dramaturgo e descobriu coletivos como Cia. de Arte Negra, Cia. Os Crespos e Coletivo Negro. Entrou em contato com cada um deles pelas redes sociais e se colocou à disposição para ajudar no que fosse preciso.

Em 2014, quando descobriu a palavra banzo –que em yorubá significa toda a tristeza profunda que os negros escravizados sentiam–, resolveu escrever um poema que depois virou uma peça.

Wil convidou, entre outros atores, a artista e produtora Vanessa Soares para encená-la. Com os novos amigos, fundou o coletivo de teatro Agô Performances Negras –agô, nas religiões de matrizes africanas, significa pedir licença. “Desde o começo eu queria falar pelos nossos e dar continuidade a essa voz [ancestral]. Queria que o meu corpo negro fosse um instrumento para fazer essa comunicação”, afirma.

Wil em atividade no ateliê antes da pandemia (Reprodução)

Mesmo com o grupo de teatro já consolidado, Wil ainda sentia que poderia fazer mais. “A arte pra mim é muito mais do que entretenimento, é uma missão social muito forte”. Começou assim a estruturar um projeto voltado para crianças. “[O ateliê] é um espaço educativo de criação, reflexão e valorização da cultura e da memória negra brasileira”, explica.

Entre as atividades do Ateliê Afro Cultural estão contações de histórias, apresentações musicais, oficinas de pintura e criação de bonecas abayomi. Tudo visando aproximar a criançada da cultura negra.

Wil e Nathy perceberam também o interesse dos adultos pelas atividades. “Costumamos dizer que o ateliê é um projeto para crianças de 0 a 100 anos”, brinca o idealizador. “Queremos mostrar para as pessoas que é importante, antes de se chegar a algum lugar, entender de onde nós viemos”, explica Nathy. “Nossa sociedade quer criar pessoas alienadas e sem memória.”

Com o prêmio que ganhou no programa de TV, o casal pretende sair do aluguel e comprar um espaço físico para o ateliê receber mais pessoas. E ensiná-las que é importante conhecer a história afro-brasileira, pois, como diz o ditado africano citado por Wil na televisão, “o rio, quando esquece de onde nasce, seca e morre.” (Priscila Camazano)

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Quero ser instrumento de reparação social, diz cantor pernambucano que lança clipe e marca LGBTQIA+ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/12/08/quero-ser-instrumento-de-reparacao-social-diz-cantor-pernambucano-que-lanca-clipe-e-marca-lgbtqia/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/12/08/quero-ser-instrumento-de-reparacao-social-diz-cantor-pernambucano-que-lanca-clipe-e-marca-lgbtqia/#respond Tue, 08 Dec 2020 19:25:31 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/juan-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1135 Ser artista independente, por si só, não é fácil. Mais difícil ainda é perpetuar a arte fora do mainstream em uma pandemia, quando muitas das opções de trabalho simplesmente acabam.

Mas foi na reclusão que o pernambucano Juan Guiã, 33, encontrou o caminho para lançar o clipe de “Te Alma”, música que vai integrar o álbum de estúdio que deve lançar em 2021. O trabalho, que fala de amor e conexões físicas e espirituais, chega junto com uma grife de roupas agênero, cujo lucro será revertido para o Instituto Transviver, que o cantor criou com a mãe em Recife há três anos.

No projeto, Juan atende a população LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade, oferecendo serviços como orientação para retificação de nome, ajuda psicológica, formação e aula de idiomas. Ainda que na pandemia, como ele mesmo diz, o trabalho tenha dado passos para trás. “Nossos assistidos estavam em outras camadas e voltaram a precisar de comida, de saneamento, de coisas que a gente já tinha ralado muito para mudar.”

“Sempre pensei em ser um instrumento de reparação social, em encontrar brechas no meu próprio cotidiano para fazer a diferença na vida de outra pessoa”, afirma o cantor. “Vejo como estamos aquém de São Paulo ou do Rio; não existem casas de acolhimento no nordeste. E isso reverbera totalmente nas pessoas que atendemos”.

Não é a primeira vez que Juan Guiã destina parte da arrecadação que tem com seu trabalho ao projeto –os lucros da música “Bacurau”, lançada antes da pandemia, também foram destinados ao Transviver. “Acho que isso inspira outras pessoas a pensar no coletivo. É movimentar, dar a ideia, dar a voz. Isso é muito potente”, diz.

Em “Te Alma”, o artista –que é dançarino desde os 14 anos e já atuou em “Malhação”, na rede Globo–, explora não apenas a música, mas também as artes cênicas em uma espécie de performance. Figurinos e adereços são de sua autoria. “Aprendi a fazer luz e cenários sozinho, olhando, vendo montagens. No começo não tinha como pagar um cenógrafo, um figurinista, um criador. Tinha que entregar tudo sempre muito andado”, conta. A direção musical é de Henrique Macedo.

Para lançar a grife de moda Te Alma, paralelamente à música, Juan contou com a ajuda de uma das assistidas do Instituto Transviver, Maju Andrade, que posou com o figurino. “Ela quer trabalhar como modelo, então consegui juntar as duas coisas”, conta. “Tento me movimentar para dar voz àqueles que não têm. A gente não tem lugar de fala em determinados pontos, mas é muito importante quando entendemos e passamos a conviver com eles.”

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Com shows online para 20 participantes, O Teatro Mágico interage com fãs na quarentena https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/07/31/com-shows-online-para-20-participantes-teatro-magico-canta-e-interage-com-fas-na-quarentena/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/07/31/com-shows-online-para-20-participantes-teatro-magico-canta-e-interage-com-fas-na-quarentena/#respond Fri, 31 Jul 2020 14:00:19 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/anitelli-1-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=920 A pandemia do coronavírus obrigou todos a se reinventar. Mas, mesmo com a reabertura gradual das atividades em alguns estados, muitos setores ainda vão demorar para retomar as atividades. O entretenimento talvez seja um dos casos mais representativos, já que shows, festas e eventos formam aglomerações.

Enquanto grandes artistas do mainstream migraram para lives superproduzidas para sobreviver na quarentena –algumas gerando críticas pela quantidade de pessoas envolvidas e excesso de bebida–, outros, mais independentes, apostam no contato com o público. É o caso d’O Teatro Mágico, que passou a oferecer seus shows para grupos de 20 pessoas por vez, por meio de um aplicativo de videoconferência.

Mais do que cantar, o objetivo é interagir com todos os participantes –motivo pelo qual a live passou a ser chamada de experiência. “Meu irmão e parceiro de composições, Gustavo Anitelli, surgiu com a ideia. Ele viu que o público, além de me querer ali, na sala de casa, quer saber como o artista que gosta está atravessando esse momento de pandemia também”, explica Fernando Anitelli, que encabeça a trupe.

Para participar, o interessado compra o ingresso, que custa R$ 50, e escolhe o dia que quer assistir à live. A partir de então, começa a experiência. A equipe d’O Teatro Mágico monta um grupo de WhastApp com os 20 participantes daquela sessão, e é por ali que todos se conhecem, definem as músicas que querem ouvir e pensam em qual história vão compartilhar com o artista. Cada participante tem três minutos para conversar com Fernando Anitelli.

“Quando faço um show em São Paulo, eu toco para quem está em São Paulo. Mas na experiência falo com pessoas de todos os lugares e consigo fazer a plateia se multiplicar por todo o planeta. Tem uma carga emocional grande. Posso ver aquele menino que não tem nem forro no teto da casa, mas pega R$ 50 para me assistir”, diz Anitelli.

Durante a apresentação, o músico canta dez músicas escolhidas pelo grupo e nos intervalos conversa com cada fã. A ideia é que os participantes compartilhem suas histórias, poemas e músicas.

A experiência já contou com relatos emocionantes, juntou mãe que mora em Ilhabela (SP) com filha que está na França e serviu de palco até para pedido de casamento. Virou opção de entretenimento para empresas, que compraram o show para os funcionários em home office. “E tem mais um detalhe que é o lado sustentável. Ninguém corre risco nenhum. Já tocamos para mais de 1.200 janelas [do aplicativo] sem colocar ninguém, nem público, nem banda, em risco.”

Além disso, segundo Anitelli, o formato deu oxigênio para a banda e para o público no período da quarentena. “A arte foi a primeira a parar com a pandemia e vai ser a última a voltar. As grandes empresas vão patrocinar os grandes artistas; elas patrocinam quem na verdade não precisa. Quem é menor não pode ficar esperando. Tem que cuidar do fã, se relacionar diretamente com ele, honrar o público”, diz.

“Lá na frente, as pessoas ainda vão falar que os artistas ‘são vagabundos, jogar pedra na Geni’. Mas queremos transformar esse pensamento, mostrar na prática o que estamos fazendo e o quanto as políticas públicas são importantes.”

Fernando Anitelli, d’O Teatro Mágico (Filipe Nevares/Divulgação)
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Em live megaproduzida, Gusttavo Lima agradece a Deus, bebe e fala palavrão https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/04/12/em-live-mepagroduzida-gusttavo-lima-agradece-a-deus-bebe-e-fala-palavrao/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/04/12/em-live-mepagroduzida-gusttavo-lima-agradece-a-deus-bebe-e-fala-palavrao/#respond Sun, 12 Apr 2020 03:02:20 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/IMG-1580.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=771 A imponente mansão do sertanejo Gusttavo Lima em Goiás, que já deu o que falar  e até virou meme, foi o pano de fundo na segunda live do artista, realizada neste sábado (11) de Páscoa –e de quarentena.

Assim como a primeira exibição, que ocorreu em 28 de março e quebrou o recorde da história do YouTube com cinco horas de show e 11 milhões de acessos, a live deste sábado foi megaproduzida. Instalada no jardim da casa do artista, próxima à piscina, contou com iluminação especial, múltiplas câmeras e som de primeira.

O tripé que amparava seu microfone dourado, por sinal, também não tinha nada de modesto. Era uma reprodução da fachada de sua casa, lembrando um templo. Cafona, é fato, mas todo inserido no contexto.

Gusttavo começou a apresentação com uma música religiosa, “Maria Passa na Frente”, e emendou com o sucesso “A Gente fez Amor”. Minutos depois, se perdeu no meio de uma composição e soltou um “cadê a letra, buceta?”. Dava o tom, assim, da apresentação –recheada de bebidas, palavrões e conversa fiada com os fãs.

Durante o show, o artista priorizou sucessos de outras duplas consagradas no meio, como Bruno e Marrone, Edson e Hudson, Gian e Giovani e Tonico e Tinoco. Destes artistas, entoou sucessos como “Inevitável”, “O Grande Amor da Minha Vida”, “Te Quero pra Mim” e “Moreninha Linda”.

Bebeu cerveja, uísque, cachaça e aperol spritz. Elogiou a esposa Andressa Suita, que apareceu na apresentação algumas vezes, e até alfinetou Bruno, da dupla com Marrone, que fez uma live visivelmente embriagado na última quinta (9): “bebeu água com bateria, Bruno?”.

Após três horas de músicas, frisou que não tinha “obrigação nenhuma de cantar igual DVD, pois era uma live e já estava para lá de Bagdá”. Também fez questão de lembrar que estava apenas com uma parte reduzida de sua equipe na apresentação online –a live de Jorge e Mateus, outro recorde do novo modelo de apresentações durante a pandemia do coronavírus, recebeu críticas por aglomerar pessoas.

Gusttavo Lima alçou os assuntos mais comentados do Twitter durante o show, fez merchandising para Casas Bahia, Cielo, Perdigão e Bohemia, e arrecadou doações para as comunidades mais atingidas pelo novo coronavírus. Falou demais, bebeu bastante, tentou fazer um clima intimista na mansão estilo Havan. Bateu papo com Neymar. Mas não emocionou como da primeira vez.

Se a ideia era entreter os fãs durante a quarentena, Gusttavo foi bem. Mas o desafio agora é não deixar que as próximas lives virem apenas vitrine para propaganda, como já passaram a ser. Aguardemos.

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Com chinelo, cerveja e bom-humor, Marília Mendonça segura live no vozeirão https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/04/08/com-chinelo-cerveja-e-bom-humor-marilia-mendonca-segura-live-no-vozeirao/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/04/08/com-chinelo-cerveja-e-bom-humor-marilia-mendonca-segura-live-no-vozeirao/#respond Thu, 09 Apr 2020 02:50:50 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/WhatsApp-Image-2020-04-08-at-23.44.15.jpeg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=757 Quem acompanha a carreira de Marília Mendonça e a viu despontar não só como compositora, mas também como cantora, sabe que o jeito “simplão” da artista sempre foi um de seus pontos fortes no palco.

Sempre de tênis ou sapato baixo, matando a sede na caneca de cerveja e conversando com o público de forma descontraída no intervalo das canções, conquistou uma legião de fãs por todo o país. Da gravação do primeiro DVD, em 2015, para o segundo, em 2016, saltou de 30 para 40 mil espectadores no show. E não parou mais.

O ponto forte foi o audacioso DVD “Todos os Cantos”, em 2019, gravado em todas as capitais do país com shows surpresa, gratuitos, anunciados por panfletagem nas ruas. A megaturnê virou uma série documental, exibida no Globoplay em setembro.

Mas na live que a sertaneja realizou nesta quarta (8), agora com carreira consolidada e logo após retornar da licença-maternidade, o que chamou a atenção foi o resgate do seu jeito peculiar de cantar. Sem rodeios, sem luxo, deixou brilhar o vozeirão enquanto se adaptava ao novo formato de transmissão em tempos de quarentena.

De chinelo, ela errou letra de músicas antigas, pediu toalha para enxugar o suor, reclamou de ter que cantar em pé, pediu para parar e fazer xixi. Confundiu câmeras, se perdeu no celular ao dar aquela espiadinha no Twitter. A transmissão teve problemas técnicos e travou bastante, mas nada que a impedisse de dominar nove de dez assuntos mais comentados da rede social no Brasil. Liderou também a lista mundial, registrando 4,8 milhões de tuítes sobre o assunto.

As três horas e meia de show englobaram sucessos de toda sua carreira, com canções como “Infiel”, “O Meu Cupido é Gari”, “Supera”e “Todo Mundo vai Sofrer”, e também serviram para arrecadar doações para famílias afetadas pela crise do coronavírus. Assim como na live de Jorge e Mateus, Marília Mendonça parou para ouvir o recado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que agradeceu por ela “estar fazendo live e não aglomerando as pessoas”.

Teve espaço para merchandising? Sim, e muito. Ela tirou o tênis para colocar um chinelo Havaianas. Falou que estava com vestido da Riachuelo, pediu para os fãs comprarem ovos da Páscoa no aplicativo das Lojas Americanas e ressaltou a parceria com a rede Stone para receber as doações. Mas também teve sofrência, modão, e um sem-fim de músicas que ela cantou sem desafinar, e sem perder o bom-humor.

O saldo da noite foi positivo: mais um show online bem-sucedido, com três milhões de acessos simultâneos, tradução para libras, fãs felizes, alimentos arrecadados e marcas expostas. Se, em tempos de coronavírus, o tête-à-tête não é possível, o tela a tela é. E está rendendo bons frutos para a cena musical que vive com o YouTube.

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Com João Carlos Martins, Palácio dos Bandeirantes recebe concerto beneficente https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/03/10/com-joao-carlos-martins-palacio-dos-bandeirantes-recebe-concerto-beneficente/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/03/10/com-joao-carlos-martins-palacio-dos-bandeirantes-recebe-concerto-beneficente/#respond Tue, 10 Mar 2020 13:00:07 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/03/joão-carlos-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=710 Um pitaco bem legal para quem estará em São Paulo na próxima quarta, dia 18 de março: o maestro João Carlos Martins estará com a Orquestra Bachiana Filarmônica do Sesi em uma apresentação especial no Palácio dos Bandeirantes.

Na primeira parte do espetáculo, a orquestra vai tocar composições de Beethoven, Brahms e Schubert. Na segunda, o maestro –que, graças a luvas biônicas, voltou a tocar— vai interpretar ao piano trilhas de filmes clássicos, como “Cinema Paradiso” e “E o Vento Levou”.

O legal é que a renda do evento será revertida para a Amem (Associação dos Amigos do Menor pelo Esporte Maior), entidade que já atendeu mais de 4.000 meninos e meninas em situação de vulnerabilidade da comunidade do Jardim Arpoador, zona oeste de SP, com atividades esportivas, educativas e recreativas.

Os ingressos custam R$ 110 podem ser adquiridos pelo site da própria Amem. É uma chance de ouvir boa música, apreciar a cultura e ajudar o próximo. Bora lá? 😉

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João Carlos Martins e Orquestra Bachiana Filarmônica do Sesi. Palácio dos Bandeirantes – Av. Morumbi, 4.500, Morumbi, São Paulo. Qua. (18): 20h30. Ingressos: R$ 110, para amemcrianca.org.br.

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Álbuns de Pitty e Madonna lançam luz em momento de trevas, afirma leitor https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/27/albuns-de-pitty-e-madonna-lancam-luz-em-momento-de-trevas-afirma-leitor/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/27/albuns-de-pitty-e-madonna-lancam-luz-em-momento-de-trevas-afirma-leitor/#respond Fri, 27 Sep 2019 11:30:35 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/pitty-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=354 O pitaco de hoje é do leitor Lucas Prado Mattos, de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Lucas tem 31 anos, é engenheiro mecânico e gosta bastante de música. Para o Pitaco, ele faz uma comparação entre os álbuns mais recentes de Pitty (“Matriz”) e Madonna (“Madame X”).

“Acompanho o trabalho das duas com especial atenção, porque gosto muito. Inclusive, parte da inspiração para escrever o texto foi estar empolgado com o show da Pitty aqui em Porto Alegre, no próximo dia 5, e com a estreia da turnê da Madonna em Nova York na última semana”, conta Lucas. Leia, abaixo, a resenha.

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Quem olha mais atentamente sabe da convergência entre as carreiras de Pitty e Madonna. A própria Pitty já se declarou fã da Madonna e fez um programa inteiro como cover da cantora americana na finada MTV.

Enquanto Pitty tem o rock na veia… bem, a Madonna também o tem. Mais rock’n’roll que estar há décadas desafiando o conservadorismo e o status quo? Isso é muito mais transgressor do que muitas bandas roqueiras que apareceram nesse tempo orgulhosas de suas guitarras e torcendo o nariz para as batidas pop da Madonna.

Dizem que ouvir o novo álbum de um artista que se acompanha há muito tempo é uma experiência parecida, em séculos anteriores, com a de receber uma carta de um amigo que não se vê há tempos. Primeiro, ficamos a par do que tem acontecido na vida da pessoa.

Pitty lançou “Matriz” no final de abril de 2019, e Madonna lançou seu “Madame X” pouco mais de um mês depois. Ao ouvir os novos álbuns, percebe-se que as ideias que passam pela cabeça delas são as mesmas que passam pela cabeça de quem tem um mínimo de sensibilidade: tentar respirar no meio da onda ultraconservadora que varre o mundo ocidental nos últimos anos.

Assim, com letras corajosas, as duas cantoras fizeram neste ano o álbum mais político de suas respectivas carreiras. A palavra “democracia” aparece em “God Control” da Madonna, faixa sobre o controle e posse de armas de fogo; “revolução” e “resistência” aparecem em “Noite Inteira”, faixa mais pop já produzida pela Pitty que chegou às rádios em remix (que faria bonito na discoteca do polêmico clipe de “God Control”).

Madonna escreveu “I Rise” para tocar nas paradas de orgulho LGBT pelo mundo, buscando inspiração para a letra em Jean Paul Sartre e sampleando parte do discurso de Emma González, sobrevivente de um massacre em escola americana.

O sol do Caribe também brilha nos dois álbuns. A levada reggae faz a cama para “Future” (que Madonna gravou com o rapper Quavo), para “Te Conecta”, da Pitty, e para “Sol Quadrado”. Nessa última, Pitty reflete sobre os limites da liberdade na sociedade atual, reflexões que ecoam em “Extreme Occident”.

Em um momento que o Brasil abraça ideias xenófobas contra o Nordeste, Pitty veste as cores da Bahia, seu estado natal, na capa do álbum e em vídeo promocional, e chama o Baiana System para expressar o orgulho de suas origens nordestinas em “Roda”: “você pode até latir, você pode até bradar / você pode coibir que eu não vou me abalar / só não mexa no meu jeito de dançar”.

No refrão de “Killers Who Are Partying”, Madonna adverte em português: “o mundo é selvagem / o caminho é solitário”, e nas estrofes oferece sua voz a grupos marginalizados quando esses sofrerem ataques (entre outros, ela será pobre se os pobres forem humilhados, ela será gay se os gays forem queimados –imagem que filma literalmente no clipe de “Dark Ballet”, quando coloca Joana D’arc sendo interpretada por Mikki Blanco, artista negro, queer e HIV positivo, que aparece sendo queimado pela igreja católica).

“Madame X” nasceu enquanto Madonna acompanhava o filho, jogador de futebol em Lisboa. Isso fez com que tivesse contato com a cultura portuguesa, bem como com influências de outros países que compartilham nossa língua, como o próprio Brasil (percebo traços do “Transa”, do baiano Caetano, além da poderosa presença da “Anitta” no CD), e também Cabo Verde, na África. Influência escancarada em “Batuka”, gravado com mulheres do grupo Batukadeiras.

Bahia, o estado brasileiro mais africano, ecoa em todo álbum de Pitty, com ritmos de percussão africana, mas vem para a linha de frente em “Redimir”, faixa produzida por Pupilo. Inclusive, nessa faixa Pitty faz o que Madonna é genial professora: subverter símbolos católicos em metáforas mundanas. “O chicote em minhas mãos / o chicote em minhas costas / rasgando rios, o vergalhão / via-crucis autoimposta”, Pitty canta em Redimir.

Minhas preferidas da Madonna são chamar seus fluidos vaginais de água benta em “Holy Water”, cantar “Live to Tell” em uma cruz e, é claro, o clássico clipe da seminal música “Like a Prayer”, sobre se ajoelhar para rezar, ou para fazer sexo oral.

Existem congruências nos álbuns, sejam elas temáticas ou sonoras. Isso provavelmente se dá por vivermos em um mundo globalizado em que as grandes questões que afligem Pitty são as mesmas que afligem Madonna –ou por ambas terem uma atenta antena para a música que está sendo feita em todo o mundo.

Mas penso que a mais importante é a impermanência, ou a permanente insatisfação. As duas cantoras lançaram álbuns que são únicos dentro de suas respectivas discografias. Madonna não aponta seu barco para uma aposentadoria, ou para regravar sua excepcional coleção de sucessos em formato acústico ou algo que o valha. Pelo contrário, ela sai de sua mansão em Lisboa para tocar um dos maiores vespeiros do mundo, ao mostrar a bandeira da Palestina em polêmica apresentação no Eurovision.

Pitty tampouco recorre a melodias e letras fáceis que lhe garantiriam sucesso radiofônico mais imediato. Ambas gravam álbuns que tentam lançar luz em momento que as trevas ganham força. Vida longa e produtiva a elas.

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Pitty. Pepsi on Stage – Av. Severo Dullius, 1.995, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Sáb. (5/10): 22h. Ingressos: a patir de R$ 45, em bileto.sympla.com.br.

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