Pitaco Cultural https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br Suas impressões sobre filmes, peças, música e comida Tue, 07 Dec 2021 18:35:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Peça online joga luz a órfãos cariocas que foram escravizados nos anos 1930 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/peca-online-joga-luz-a-orfaos-cariocas-que-foram-escravizados-nos-anos-1930/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/11/26/peca-online-joga-luz-a-orfaos-cariocas-que-foram-escravizados-nos-anos-1930/#respond Fri, 26 Nov 2021 17:26:08 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/unnamed2-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1536 Cinquenta garotos órfãos, a maioria negros, entre 9 e 12 anos, tutelados pelo Juizado de Menores do DF, são retirados de um educandário no Rio de Janeiro e levados para uma fazenda no interior de São Paulo, nos anos 1930.

A promessa é de uma casa e quem sabe uma família. Mas, na verdade, são isolados e submetidos por membros da cúpula da Ação Integralista Brasileira –a AIB, movimento fascista e anticomunista– a longas jornadas de trabalho sem nenhum tipo de remuneração. São crianças submetidas à escravidão.

Essa história triste e real é o pano de fundo do espetáculo “Tão Somente Meninos”, do Teatro da Conspiração, que estreou nesta quinta (25) com exibições onlines e gratuitas.

A montagem de Solange Dias, dirigida por Cássio Castelan, mistura teatro e dança em uma releitura desse período obscuro.

Para criá-la, a companhia buscou elementos na tese de doutorado “Educação, Autoritarismo e Eugenia: Exploração do Trabalho e Violência à Infância Desamparada no Brasil (1930-45)”, defendida em 2011 pelo historiador Sidney Aguilar Filho.

 

Cena de ‘Tão Somente Meninos’, do Teatro da Conspiração (Arô Ribeiro/Divulgação)

“Cinquenta meninos, 48 negros e 2 brancos”, ressaltam os narradores que conduzem o peça. Esses atores narram um encontro imaginário entre quatro dos órfãos que foram escravizados, passando por suas infâncias interrompidas e fazendo um paralelo com a velhice.

A música também tem papel importante no espetáculo, marcando passagens da infância e do trabalho forçado dos personagens. Apesar de baseada em um fato histórico do começo do século 20, “Tão Somente Meninos” traz, lúdica e poeticamente, reflexões sobre autoritarismo, racismo, opressão e meritocracia.

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Tão Somente Meninos. 14 anos.  26, 27 e 28 de novembro e 2, 3, 4, 5, 10 e 11 de dezembro. 20h. Online. Grátis. Ingressos em sympla.com.

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E você, que filmes, séries ou peças tem assistido? Viu algum espetáculo online ou presencial na pandemia? Escreva para o email pitacocultural@gmail.com e envie sua resenha. Não esqueça de mandar nome completo, profissão, idade e cidade.

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Vacinado, voltei presencialmente ao teatro e me emocionei, conta leitor https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/27/vacinado-voltei-presencialmente-ao-teatro-e-me-emocionei-conta-leitor/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/27/vacinado-voltei-presencialmente-ao-teatro-e-me-emocionei-conta-leitor/#respond Wed, 27 Oct 2021 18:50:54 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/tectonicas-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1510 O pitaco de hoje é do leitor Marcos Barbosa, 50, advogado, ator e dramaturgo.

Marcos é um amante do teatro e conta ao blog como foi voltar a assistir a uma peça presencialmente depois de quase dois anos. Ele também relata o que achou da montagem que viu, “Tectônicas”, em cartaz no Sesi da avenida Paulista, em São Paulo.

Ambientada no interior paulista, a trama gira em torno da família de Jorge, um latifundiário dono de uma usina de açúcar. O conflito que a dispara é uma acusação que Jorge faz contra Marcelo, namorado da filha que supostamente a teria agredido.

***

Depois de dois anos, tomei coragem: fui com minha esposa, vacinados, assistir a uma peça no teatro. É o lugar que mais frequento –por temporada, já cheguei a ver 55 montagens.

Assisti “Tectônicas” no Sesi da avenida Paulista, uma ótima peça, teatro puro na veia. Não me decepcionei.

O retorno presencial a uma sala foi maravilhoso. Fiquei emocionado ao entrar. Aliás, esperando na porta, já estava muito emocionado em poder voltar a ver um espetáculo, ao vivo e a cores, como é o teatro de
verdade.

Houve mudanças sensíveis nas regras após o fechamento por causa da pandemia. A sala estava com uma capacidade bem menor, com bom distanciamento entre os espectadores –e os protocolos, principalmente uso de máscaras, sendo respeitado.

Sobre a peça, “Tectônicas” funciona principalmente porque dá voz ao teatro, sem estardalhaços pirotécnicos. Há uma tensão que fica pairando no ar e nos prende entre os personagens: um pai, uma filha e o antigo namorado, preso por supostamente cometer um crime.

Uma amante quase silenciosa desaba seu inconformismo cantando pequenos trechos de sucessos de Roberto Carlos. A esposa atual ressente um passado obscuro do marido.

Tudo se passa dentro de um clima de violência, às vezes explicita, outras implícita.

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Tectônicas. Teatro do Sesi-SP – av. Paulista, 1.313 (próximo ao Metrô Trianon-Masp). De sexta e sábádo: 20h. Domingo: 19h. Até 5/12. Grátis.

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Com pintinho que perde os dedos, livro infantil fala de acolhimento e superação https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/12/com-pintinho-que-perde-os-dedos-livro-infantil-fala-de-acolhimento-e-superacao/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/10/12/com-pintinho-que-perde-os-dedos-livro-infantil-fala-de-acolhimento-e-superacao/#respond Tue, 12 Oct 2021 14:38:59 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/10/bira-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1493 Um pintinho amarelo é encontrado por uma menina, perdido embaixo da chuva, no quintal de um sítio. Essa menina acolhe o bichinho, tenta aquecê-lo e um acidente com o fogão a lenha faz com que ele machuque os pés.

O susto é grande, mas a menina resolve cuidar da ave para que ela se recupere. Nasce, então, uma amizade –o pintinho fica na família, se acostuma até a dormir no quarto de sua protetora e recebe o nome de Biro-Biro, em homenagem ao ex-jogador do Corinthians.

O que a garota não espera, entretanto, é que Biro-Biro vai crescer e se tornar não um galo, mas uma galinha –a galinha Bira-Bira. E que vai conseguir fazer tudo o que qualquer galinha faz, mesmo com os pés “diferentes”.

“A Galinha Bira-Bira” , livro publicado pela Ed. Flamingo com ilustrações de Marco Martins, é a primeira obra infantil da autora Adriana Balsanelli.

A autora sorri para a foto enquanto vira uma página do livro
A autora do livro, Adriana Balsanelli (Iara Morselli)

A história é inspirada na infância de Adriana, que viveu no interior de São Paulo e cuidou de Bira-Bira (a verdadeira, que cresceu só com o “cotoco” dos dedinhos, como conta a autora). Adriana mora na capital e a experiência como assessora cultural, divulgando espetáculos infantis, a ajudou a compreender esse universo.

O interessante é que, a partir de uma história bonita e real, o livro consegue falar de temas complexos e importantes. Entre eles acolhimento, transição (Biro-Biro era, na verdade, Bira-Bira), superação de dificuldades e sobre o quanto é normal ser diferente.

Fica, portanto, o nosso pitaquinho cultural nesse Dia das Crianças. 😉

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A Galinha Bira-Bira.  44 páginas.  7 a 10 anos. Preço de venda: R$ 30.

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Que filmes, séries ou peças você tem assistido? Já voltou a frequentar bares e restaurantes? Escreva para pitacocultural@gmail.com e envie sua resenha. Não esqueça de mandar nome completo, profissão, idade e cidade.

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Humorista da ‘Pifãizer’ lança especial de comédia e lembra: ‘A gente não existe só no dia que viraliza’ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/19/humorista-da-pifaizer-lanca-especial-de-comedia-e-lembra-a-gente-nao-existe-so-no-dia-que-viraliza/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/19/humorista-da-pifaizer-lanca-especial-de-comedia-e-lembra-a-gente-nao-existe-so-no-dia-que-viraliza/#respond Thu, 19 Aug 2021 14:00:02 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/esse-menino-2-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1427 Desde o dia 9 de junho, ficou difícil ler qualquer notícia relacionada à vacina da Pfizer sem falar, ainda que mentalmente, “Pifãizer”. É que foi nessa data que o humorista mineiro Esse Menino, 25, viralizou ao ironizar as inúmeras tentativas –sem sucesso– da fabricante em vender o imunizante ao governo brasileiro.

O caso, revelado pela CPI da Covid, acabou servindo de base para a esquete que bombou nas redes sociais e que conta, até agora, com mais de 20 milhões de visualizações. “Inventei de fazer um vídeo sobre a notícia, e aí minha vida mudou”, relata o artista.

Mas o que parece sorte ou um tiro certeiro é o reflexo de uma carreira já consolidada no humor, e que dá agora novo passo com o lançamento do especial de comédia “Poodle”. O projeto audiovisual independente foi criado e gravado antes do vídeo da “Pifãizer”. Ele tem roteiro, produção e performance de Esse Menino, e conta com as participações das cantoras Duda Beat, Jup do Bairro e  do jornalista Chico Felitti.

“Eu criei esse texto para ser feito no palco, ao vivo, mas quando vi que a pandemia não ia acabar, pensei: é isso [formato online] que eu tenho agora”, explica o comediante. Em “Poodle”, Esse Menino joga um olhar muito bem-humorado, e igualmente crítico, aos estereótipos e clichês que orbitam os gays –tanto no dia a dia quanto na mídia e na televisão.

Dividido em cinco atos — negação, revolta, depressão, barganha e aceitação–, o projeto de comédia usa as fases do luto para falar de um gay militante que “morre” dentro de si e acaba se tornando uma pessoa alienada.

“Pensei: e eu fosse cada vez mais matando esse militante que existe em mim, o que eu viraria? Viraria essa ‘bicha poodle’, uma gay pet que só faz graça para os héteros”, explica Esse Menino. Assim, o comediante desenvolve o especial mostrando um homem que se perde nas próprias convicções e acaba domesticado, caricato.

Esse Menino aborda padrões impostos aos LGBTQIA+ pela sociedade, pela mídia e a também critica a cultura do cancelamento. “Qual a forma mais fácil de [uma marca] pegar uma pauta importante e mostrar que está preocupada com ela? É falar: agora todo comercial vai ter uma pessoa preta, uma pessoa gay e pronto”, diz. “Mas esse comercial, muitas vezes, mostra que você só é aceito ao se encaixar em padrões. É uma lavagem de quem a gente é, uma homogeneização. Nós estamos felizes com isso?”, indaga.

O formato de “Poodle” não foi alterado depois que o artista viralizou. O roteiro inicial foi elaborado para um edital de micropeças da Prefeitura de Belo Horizonte, com cerca de 10 minutos, e acabou expandido para 40. Está disponível para compra por R$ 20 até esta sexta (20), e exibição até domingo, em uma plataforma colaborativa.

Depois, o projeto deve seguir para o YouTube ou algum streaming que se interessar. “Estou me vendendo mesmo”, brinca. “Quero juntar um dinheiro porque, possivelmente, no ano que vem essa galera vai olhar para mim e falar: ‘ai, não sei mais se ele está tão legal quanto era'”.

“Eu sei de vários artistas independentes que, na pandemia, não conseguem mais pagar as contas. Não acho que todo mundo tem que popularizar, mas sei da dificuldade e me sinto muito sortudo por fazer uma arte que atraia publicidade”, relata Esse Menino. “A gente não existe só no dia que a gente viraliza.”

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“Poodle”. Especial de comédia de Esse Menino. R$ 20. Ingresso: R$ 20, para evoe.cc/essemenino. Até 20 de agosto.

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Peça online sobre professor gay que quer adotar joga luz à intolerância https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/29/peca-online-sobre-professor-gay-que-quer-adotar-joga-luz-a-intolerancia/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/29/peca-online-sobre-professor-gay-que-quer-adotar-joga-luz-a-intolerancia/#respond Tue, 29 Jun 2021 19:22:39 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/FotoAliceJardim-2407-2-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1359 Um professor casado, de cerca de 30 anos, quer ser pai e decide adotar uma criança. Mas a história que poderia ser corriqueira é envolta em tensão no espetáculo online “Monstro”, em cartaz de quinta a domingo, gratuitamente, até 11 de julho.

Léo, protagonista da peça, é um homem gay que tem o processo de adoção negado. É para esse filho que ele não chegou a ter –Téo, um garoto negro e que sonha em ser astronauta– que ele deixa uma mensagem, gravada em vídeo no celular.

“Conversei com vários casais homoafetivos que tiveram êxito no processo de adoção. Mas o percurso deles até chegar lá não foi só de flores”, explica Ricardo Corrêa, 35, que assina a dramaturgia e protagoniza a peça da Cia. Artera de Teatro. “Vivemos num país muito conservador e a luta dessas famílias, que são guerreiras e plurais, é o que utilizo na montagem”, conta.

As entrevistas que embasam o espetáculo do Teatro Sérgio Cardoso deram origem ao curta-metragem “Monstro Também tem Sentimento“, disponível no YouTube.

O protagonista Léo em cena da pela “Monstro” (Alice Jardim/Divulgação)

Tensão política e intolerância com o público LGBTQIA+ também são destaques da peça. “Monstro” mostra, por meio das reflexões de Léo, como a sociedade pode ser violenta e transformar o homem que quer formar vínculos e uma família em um monstro, uma pessoa que não é bem-vinda junto aos demais.

Professor de natação em uma escola particular de classe média-alta, Léo tenta falar sobre inclusão e aceitação com seus alunos, crianças, mas se vê alvo de ataques.

A Cia. Artera de Teatro pesquisa a temática há quase 20 anos –no espetáculo “Bug Chaser”, por exemplo, discutiu a relação entre o risco e o prazer contidos nas práticas de “barebacking” (sexo sem preservativo) e de “bugchasing” (quando alguém procura ter relações sexuais com HIVs positivos para ser infectado).

“Vivemos no país que mais mata LGBTs. O personagem recebe essa violência da sociedade, ele é um corpo que não é aceito”, explica Corrêa. “Mas acredito no papel da arte de dar voz e colocar um olhar utópico sobre o futuro, para que as pessoas tenham esperança de que algo vai mudar e se sintam representadas.”

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Ir ao teatro na pandemia é um misto de angústia e esperança https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/02/08/ir-ao-teatro-na-pandemia-e-um-misto-de-angustia-e-esperanca/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/02/08/ir-ao-teatro-na-pandemia-e-um-misto-de-angustia-e-esperanca/#respond Mon, 08 Feb 2021 19:51:45 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/teatro-alfa-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1168 Eu não pisava em um teatro havia dez meses.

Quem trabalha e consome cultura foi atingido em cheio pela pandemia do coronavírus. O entretenimento foi um dos primeiros setores a fechar e será um dos últimos a reabrir totalmente.

Mas, como tudo e todos, o teatro foi se adaptando. Centros culturais da capital paulista começaram a retomar a programação presencial com as mudanças de fase do Plano SP –ainda que timidamente, se compararmos com o que acontecia antes do “novo normal”.

Assistir a uma peça depois de tanto tempo, e ainda vivendo uma das fases mais críticas da pandemia, é angustiante.

Não pelo medo do contágio, propriamente. Não visitei todos os teatros que retomaram suas atividades, mas ouso dizer que as instituições sérias estão seguindo rigorosamente os protocolos de prevenção à Covid. É de interesse de todos, e delas, especialmente, que os espectadores estejam seguros.

A sessão que acompanhei, no Teatro das Artes, tomou todos os cuidados: cadeiras estavam pregadas (literalmente) para que as pessoas se espalhassem mais. Além disso, uso de máscara obrigatório; álcool em gel disponível na entrada; sinalização para distanciamento na fila; saída por fileiras, no fim do espetáculo, para evitar aglomeração na porta.

Mas é angustiante ver uma sala vazia. Primeiramente porque não é permitido vender todas as cadeiras disponíveis, o que colocaria a todos em risco. Depois porque, ainda assim, nem sempre os espetáculos estão com a capacidade permitida completa.

É que nem todos devem se expor e sair de casa. Nem todos têm dinheiro para comprar ingresso, dado a crise econômica que estamos vivendo. E talvez o público mal saiba que o teatro está voltando.

Imagem também como é, para o ator, não poder ouvir uma salva grandiosa de palmas ao retomar contato com o público?

Por outro lado, fortalecer o teatro e a cultura se tornaram sinônimo de esperança. Não entro nem no mérito das políticas públicas (que deveriam ser prioridade), mas também na importância do público ser protagonista deste espetáculo.

Há peças online com ingressos por valores super acessíveis —pesquisa Datafolha realizada em outubro mostra que, para 67% dos brasileiros, a pandemia democratizou o acesso à cultura na internet. Além disso, há outros presenciais acontecendo nos palcos de locais sérios e comprometidos com a segurança.

São dez meses de cultura apenas resistindo. Para que ela possa também existir, precisamos estar juntos.

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Em temporada presencial, peça em SP fala sobre amizade e autoperdão https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/02/08/em-temporada-presencial-peca-em-sp-fala-sobre-amizade-e-autoperdao/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/02/08/em-temporada-presencial-peca-em-sp-fala-sobre-amizade-e-autoperdao/#respond Mon, 08 Feb 2021 19:51:25 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/02/Davi-Gomes-e-João-Sampaio-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1189 Na noite de Réveillon do ano 2000, passagem para 2001, Ian está sozinho. Pouco antes da virada do milênio, o rapaz relata em um gravador suas lembranças e a culpa por, meses antes, ter ultrapassado com o carro um sinal vermelho –atitude que custou a vida de seus familiares.

A noite seria permeada por memórias, solidão e dor se não fosse a chegada de Noah, seu melhor amigo, que tenta animá-lo e mostrar que há outros tantos motivos para se viver e esperar dias melhores.

Nesse contexto, os atores Luccas Papp, 28, e Leonardo Miggiorin, 39, conduzem a peça “A Bicicleta de Papel”, que retomou temporada presencial no Teatro das Artes, em São Paulo. O texto extremamente sensível conduz o espectador por uma conversa entre dois amigos de infância que estão se redescobrindo.

“A peça vem como um alento ao mostrar a solidão por um ponto de vista diferente”, relata Lucas Papp. “Ela é um ode à amizade e revela como podemos estar com as pessoas que a gente ama, mesmo que elas não estejam por perto”, complementa o ator –que não tinha nem ideia do que seria a pandemia quando escreveu o texto, há dois anos.

Com diálogos narrativos e muitas vezes provocativos, os amigos relembram sua trajetória e mostram a importância da superação e, principalmente, do autoperdão. Mesmo embasada por uma grande tragédia –a morte dos pais e da irmã de Ian–, “A Bicicleta de Papel” fala sobre amor, esperança e a sobre importância das conexões entre aqueles que se amam.

“Na pandemia eu tive depressão, meu avô morreu de Covid. Eu tive que me ancorar na minha família, nos meus amigos, em que estava por perto. Por isso digo que a peça bate um pouquinho em algum lugar de todos que a assistem”, relata Papp.

RETOMADA NA PANDEMIA

“A Bicicleta de Papel” entra em cartaz em meio ao abre e fecha das atividades consideradas não essenciais no Plano SP de quarentena do estado. “É um tema que levanta discussão”, conta o autor. “Antes de voltar, conservei seriamente com minha equipe e com o teatro para que todas as medidas de segurança fossem tomadas“.

Os atores em cena de “A Bicicleta de Papel” (Davi Gomes e João Sampaio)

Para receber montagens com público, o teatro delimitou a capacidade em 40% e só permite o uso de poltronas alternadas, de modo que os espectadores fiquem bem distanciados. O uso de máscara é obrigatório, há álcool em gel e organização na entrada e na saída, de forma que ninguém aglomere. “No fim, as pessoas estão muito mais aglomeradas dentro do shopping do que dentro do teatro, que fica dentro do shopping”, afirma Lucas Papp.

“Eu sei que existe um público muito pequeno, menor que o de bares e baladas, que precisa de arte para sobreviver. E o teatro também é meu ganha pão. Estar em cartaz é manter a arte viva e mostrar que é possível, sim, fazer cultura tomando todos os cuidados.”

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A Bicicleta de Papel. Teatro das Artes. Shopping Eldorado. Av. Rebouças, 3.970, Pinheiros, SP. Domingos, às 19h. Temporada prorrogada até 28/3. Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), em teatrodasartesp.com.br

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Por 13 dias, fui um amor antigo de Reynaldo Gianecchini https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/11/09/por-13-dias-fui-um-amor-antigo-de-reynaldo-gianecchini/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/11/09/por-13-dias-fui-um-amor-antigo-de-reynaldo-gianecchini/#respond Mon, 09 Nov 2020 12:42:25 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/giane-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1074 “Oi. Tudo bem? Quanto tempo…”

Com essas palavras, e se desculpando de antemão por parecer inconveniente, Reynaldo Gianecchini me chamou no WhatsApp. Ele não sabia se deveria me procurar, mas decidiu escrever mesmo assim.

A quarentena e o período de isolamento o fizeram relembrar o amor do passado. Com mensagens de voz, fotos e músicas, ele contou, ao longo de 13 dias, todas as formas em que pensou em mim.

Por quase duas semanas, fui um amor antigo de Reynaldo Gianecchini. Suas palavras foram tão envolventes que, no final do período, senti saudades de receber mais mensagens.

É que a proposta de “Amor de Quarentena”, uma peça (ou experiência audiovisual) totalmente realizada por WhatsApp, é fazer com que o espectador se veja no papel desse amor adormecido.

Durante 13 dias, o participante recebe mensagens de celular do ator escolhido –Gianecchini, Jonathan Azevedo, Mariana Ximenes ou Débora Nascimento. O texto, delicado e poético, desmembra as nuances do que seria reviver um amor que ficou no passado.

Mensagens enviadas fazem parte da peça ‘Amor de Quarentena’ (Reprodução)

Como dizer, depois de anos, que você pensou em alguém? Como explicar a forma com que o sol forte, batendo do lado de fora da janela, traz memórias de um amor que já findou?

A proposta é que o participante entre nesse universo e se coloque no lugar do destinatário das mensagens, transformando-se em um personagem. Após comprar a experiência e escolher com que ator quer realizá-la, o espectador recebe as instruções (como usar fones de ouvido e não responder).

“Achei que tinha tudo a ver falar de amor nesse período em que estamos tão sensíveis. E acho que esse personagem é muito possível na quarentena”, relata Gianecchini, que, assim como os demais atores, gravou as cerca de 60 mensagens que compõem a peça na própria casa.

“Amor de Quarentena” foi prorrogada até 30 de novembro e agora conta com reforço internacional: os atores Jaime Lorente (La Casa de Papel) e o Leonardo Sbaraglia (“Relatos Selvagens”). Nesses casos, como os áudios são em espanhol, o participante recebe os textos traduzidos para o português.

Vale saber: parte da renda arrecadada com o espetáculo é destinada ao fundo Marlene Colé, que apoia técnicos e artistas das artes cênicas impactados pela pandemia.

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Amor de Quarentena. Até 30/11. Ingressos: R$ 40, em sympla.com.br.

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Com histórias inusitadas, exposição reúne relatos em vídeos de motoristas e passageiros pelo país https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/10/07/com-historias-inusitadas-exposicao-reune-relatos-em-videos-de-motoristas-e-passageiros-pelo-pais/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/10/07/com-historias-inusitadas-exposicao-reune-relatos-em-videos-de-motoristas-e-passageiros-pelo-pais/#respond Wed, 07 Oct 2020 11:00:52 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/pessoa-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1014 O que aconteceria se, em um dos primeiros dias de trabalho como motorista, uma corrida solicitada em direção à maternidade acabasse no nascimento de um bebê –ali, mesmo, no carro?

De que forma empreender pode ajudar uma mulher a deixar para trás relacionamentos abusivos e começar uma nova história?

Como a liberdade de ir e vir pode dar novo rumo à vida de uma pessoa que foi expulsa de casa por assumir sua sexualidade, e que passou por um grave acidente?

São histórias reais como essas que a exposição “Pessoas e Cidades – Histórias em Movimento”, do Museu da Pessoa, reúne em seu acervo online. O projeto é uma parceria do museu com o aplicativo 99 e traz, em pequenos vídeos de dois a três minutos, as situações emocionantes e inusitadas de moradores de diversas capitais do país.

O legal da mostra é que, assim como outras exposições do acervo, é multimídia e bem interativa. Narrada pelas vozes dos próprios protagonistas, ela acaba imergindo o expectador que, quando percebe, já assistiu a todos os nove episódios.

Vale ficar de olho: na próxima semana, o Museu da Pessoa vai lançar a exposição “Vidas Negras”, que trará à tona o cotidiano de famílias negras brasileiras entre os séculos XX e XXI a partir de seu acervo fotográfico. A curadoria é de Diógenes Moura.

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Histórias em Movimento. Até 31/12, pelo site do Museu da Pessoa

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Como é assistir ao teatro online e por que vale a pena https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/09/21/como-e-assistir-ao-teatro-online-e-por-que-vale-a-pena/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/09/21/como-e-assistir-ao-teatro-online-e-por-que-vale-a-pena/#respond Mon, 21 Sep 2020 11:00:02 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/a-lista-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=990 A pandemia fez com que setores se reinventassem e fizessem adaptações para sobreviver à crise. O entretenimento talvez seja um dos mais emblemáticos, já que é bem difícil ter cinema, teatro e show sem aglomeração.

Ainda que alguns teatros estejam retornando, com novos protocolos e público reduzido, a maioria investiu nas peças online para continuar levando as artes cênicas até o público.

Mas como é assistir a uma peça online? Dá para matar a saudade que é ver os atores no palco tendo como intermediária uma tela?

Este blog acompanhou, na última quinta (17), o espetáculo “A Lista”. A peça é encenada por Lilia Cabral e sua filha, Giulia Bertolli, e está em cartaz no teatro PetraGold, no Rio de Janeiro.

A montagem mostra o diálogo de uma senhora de Copacabana e sua jovem vizinha, que se oferece para fazer as compras de supermercado durante a pandemia.

Aí já temos o primeiro ponto positivo do online: como seria possível sair de São Paulo e estar no Rio tão facilmente para assistir a uma peça? Nesta quinta, a autora que aqui escreve terminou de trabalhar e precisou de pouco menos de cinco minutos para conectar o Zoom e acompanhar.

Cerca de 130 participantes estavam presentes, e havia gente de diferentes estados: São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco… Ao logar, via-se as cortinas ainda fechadas. Câmeras e microfone dos espectadores forem desligados pelo moderador da sala, a fim de evitar que atrapalhassem a progressão do espetáculo. Instruções de como acompanhar da melhor forma pela tela do celular, ou do computador, foram passadas.

Tela de computador mostra Giulia Bertolli e Lilia Cabral em cena de 'A Lista'
Giulia Bertolli e Lilia Cabral em cena de ‘A Lista’, pelo computador (Reprodução)

De repente, os três apitos característicos sinalizaram que a peça iria começar. O friozinho na barriga que temos quando estamos na sala, presencialmente, aparece. E a trama começa –cortinas abertas, atrizes no palco. Encenando, é claro, para uma câmera. Nenhuma intercorrência atrapalhou som ou imagem.

Enquanto acompanhava a brilhante atuação de Lilia e Giulia, pude pegar um café e carregar no colo minha cachorra, que assistiu à peça comigo atentamente. No fim, um telão desceu para que as atrizes pudessem ver nossos rostos.

Câmeras  e microfones foram religados a fim de que pudéssemos interagir –que triste seria o fim de um espetáculo sem o calor dos aplausos!– e conversar brevemente com as duas, enviando perguntas.

Foi, portanto, uma experiência diferente e bastante agradável. E antes que venham as críticas, é importante ressaltar: não, o computador não substitui a emoção de ver uma peça presencialmente. Mas ele torna a arte um pouco mais acessível.

Ainda que seja preciso ter uma conexão boa para acompanhar o aplicativo de conferência, o online possibilita estar em qualquer teatro do país, e do mundo, em poucos cliques. E os preços são realmente atrativos: “A Lista”, por exemplo, começa em R$ 12,50. Para quem quiser (e puder) pagar mais e apoiar a arte na pandemia, há a opção. Mas não é impositivo.

Fica assim a ideia. Por que não incorporar a opção para o novo normal? Somar não é disputar. A arte vai precisar de todas as forças para passar pela pandemia, e voltar forte dela.

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A Lista. Quinta (24) e sexta (25), às 16h45. Ingressos em sympla.com.

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E você, que filmes, séries e peças te inspiram nesse momento? Escreva para pitacocultural@gmail.com e envie sua resenha. Não esqueça de mandar nome completo, profissão, idade e cidade.

 

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