Pitaco Cultural https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br Suas impressões sobre filmes, peças, música e comida Tue, 07 Dec 2021 18:35:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Com Nicole Kidman, ‘Nove Desconhecidos’ é a série ruim que você assiste até o fim https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/09/29/com-nicole-kidman-nove-desconhecidos-e-a-serie-ruim-que-voce-assiste-ate-o-fim/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/09/29/com-nicole-kidman-nove-desconhecidos-e-a-serie-ruim-que-voce-assiste-ate-o-fim/#respond Wed, 29 Sep 2021 20:02:31 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/nove-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1471 Grande parte das adaptações de livros para a TV não consegue passar imune a críticas. E assim foi com “Nove Desconhecidos”, disponível no Brasil pela Amazon Prime, que adapta a obra homônima da australiana Liane Moriarty (de “Big Lilttle Lies”) para a televisão.

Alguns fãs dizem que a personagem central, Masha (interpretada por Nicole Kidman), é muito mais durona no livro. Outros não gostaram das adaptações que diferem o livro do roteiro no streaming (sem mais detalhes, aqui, para evitar spoilers).

Mas o fato é que “Nove Desconhecidos” é aquela série que a gente assiste reticente, achando ruim. Mas quando vê, já foi até o fim.

A história se passa em torno de uma espécie de retiro de luxo, a Tranquillum House, que seria um spa de cura física e espiritual. A proprietária, a enigmática russa Masha Dmitrichenko, promete que os poucos hóspedes –selecionados a dedo– sairão de lá após dez dias totalmente renovados.

É a partir daí que a série se desenvolve numa toada quase clichê: os hóspedes, ricos, mas aparentemente comuns, vão revelando pouco a pouco traumas e questões muito íntimas que refletem em suas vidas.

Entre eles, uma escritora de best-sellers que vê sua carreira e vida pessoal desabarem; uma família que não superou a morte de um filho; um ex-atleta que sofre com as dores e vícios de quando estava na ativa.

Envolvidos pela mentora do spa, eles encaram seus medos –e muitos psicodélicos– para superar as próprias amarras. Sabe enredo de filme, de novela? Então.

Mas há detalhes que fazem o espectador, meio com raiva, meio fascinado, seguir até o fim. A começar pelo maior deles: a quase hipnose que é assistir à gigante Nicole Kidman onipresente, de peruca loira e com um sotaque russo artificial, conduzir a trama.

Soma-se a ela a química maravilhosa entre os personagens de Melissa McCarthy e Bobby Cannavalen (dá vontade de assistir aos dois juntos em muitas séries!) e os tabus reais que envolvem a perda de um ente querido, representados pela família Marconi.

A cereja do bolo fica pelo exagero na psicodelia, cujos erros e acertos na série você pode ler aqui.

“Nove Desconhecidos” não é uma obra de arte do streaming. Mas envolve quem a assiste e ajuda a passar o tempo sem queimar muito a cabeça. O que pode ser uma boa em períodos tão conturbados no país.

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“Nove Desconhecidos”. Disponível na Amazon Prime Video.

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E você, que filmes, séries ou peças tem assistido? Viu algum espetáculo online ou presencial na pandemia? Escreva para o email pitacocultural@gmail.com e envie sua resenha. Não esqueça de mandar nome completo, profissão, idade e cidade.

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Com Liniker, ‘Manhãs de Setembro’ coloca transexualidade e maternidade sob novos aspectos https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/07/07/com-liniker-manhas-de-setembro-coloca-transexualidade-e-maternidade-sob-novos-aspectos/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/07/07/com-liniker-manhas-de-setembro-coloca-transexualidade-e-maternidade-sob-novos-aspectos/#respond Wed, 07 Jul 2021 19:53:40 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/cassandra-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1383 Novidade na Amazon Prime, “Manhãs de Setembro” chegou ao serviço de streaming alçando a cantora e atriz Liniker ao seu primeiro papel como protagonista. Mais do que isso, deu a uma mulher trans o lugar máximo de destaque na trama.

Mas um dos pontos altos talvez seja o fato de que a série fala de marginalidades com a mesma intensidade que fala de amor e laços.

A protagonista Cassandra, uma mulher transexual que acabou de alugar seu próprio espaço –uma kitnet no centro de São Paulo–, se vê de frente com um passado que nem sabia que existia, e que não sabe se quer assumir: um filho.

Gersinho (interpretado pelo ator Gustavo Coelho) surge com a mãe, a impetuosa Leide (Karine Teles), uma mulher autônoma que ganha a vida vendendo todo tipo de produto nos faróis da cidade.

Sem dinheiro, em desespero e morando com o filho em um carro velho embaixo do viaduto, Leide decide procurar Cassandra, com quem se relacionou brevemente antes da transição. Porém, a recepção não é exatamente calorosa.

Materializar a ideia de ser “pai” se mostra como uma ameaça para tudo que Cassandra tem até aquele momento. Não apenas financeiramente, mas também como mulher que finalmente tem uma casa, dois empregos –motogirl e cantora– e um namorado apaixonado. Isso no contexto de morar no país que mais mata gays e transexuais.

É então que a série se abre em diversas camadas. Ao mesmo tempo que ressalta preconceito, joga luz a representatividade, conquistas e afetos.

Cassandra encontra toda rede de apoio de que precisa em seus amigos e é amada –mas o namorado, casado, não tem coragem de deixar a esposa e assumir o novo relacionamento. Por outro lado, ela não quer a responsabilidade de ter um filho. “Virou uma mulher, mas por baixo ainda é um ‘boy lixo'”, diz Leide ao pai de seu filho.

O medo de encarar o que está por vir confunde a protagonista, que tenta seguir como se nada estivesse acontecendo, mas não tem coragem de jogar o filho recém-chegado para baixo do tapete.

Karina Teles e Gustavo Coelho em ‘Manhãs de Setembro’ (Divulgação)

“Manhãs de Setembro” promove o encontro de uma mãe solo, ambulante, com uma mulher que nasceu no corpo de um homem e que está desabrochando em seu espaço recém-conquistado.

Elas têm embates, mas carecem da mesma aceitação. E a personagem de Liniker é tão importante porque acerta e erra, tem medo e sente ódio. Gera raiva no espectador ao mesmo tempo em que cria empatia.

Entre sentimentos conturbados, Cassandra e Leide são humanas. E a série de apenas cinco episódios (por enquanto) ganha pontos por não romantizar e nem endurecer suas histórias, apenas contá-las.

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Só na Prime Video você assiste ao ‘Juglamento de Paris’; editor relata problemas com buscas no streaming https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/07/07/so-na-prime-video-voce-assiste-ao-juglamento-de-paris-editor-relata-problemas-com-buscas-no-streaming/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/07/07/so-na-prime-video-voce-assiste-ao-juglamento-de-paris-editor-relata-problemas-com-buscas-no-streaming/#respond Tue, 07 Jul 2020 11:00:03 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/07/paris.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=897 O pitaco de hoje é de Sandro Macedo, editor do Guia Folha e autor do blog Copo Cheio, sobre cervejas artesanais.

Sandro alerta que nem sempre é tão simples encontrar um filme ou uma série na busca dos serviços de streaming, já que eles têm problemas com versões traduzidas para a nossa língua –e até erros de digitação. Confira, abaixo, o texto.

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E você, que filmes ou séries te inspiram nesse momento de pandemia? Escreva para pitacocultural@gmail.com e envie sua resenha. Não esqueça de mandar nome completo, profissão, idade e cidade.

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Em tempos de salas de cinema fechadas, a oferta de serviços de streaming tem aumentado razoavelmente, com canais exibindo clássicos e novidades. São exemplos o Belas Artes à la Carte, o Cinema Virtual e o Em Casa com Sesc (este último, gratuito).

Cena do filme ‘O Julgamento de Paris’, de 2008 (Reprodução)

Outros canais já estabelecidos com pacotes mensais aumentaram o leque de opções, como Netflix e Prime Video. No entanto, às vezes é preciso paciência para encontrar o título desejado.

O Prime Video (streaming da Amazon), por exemplo, investiu em sucessos da Disney, como “Frozen 2”, a nova versão de “O Rei Leão” e “Dois Irmãos”, da Pixar –que estava em cartaz quando a pandemia chegou. Só faltou investir em um sistema de busca mais eficiente para os brasileiros.

É muito possível que um filme bom, que você queira ver, esteja lá, mas que você seja incapaz de encontrá-lo. Exemplo(s): se você quiser assistir a “Magia ao Luar”, não tente usar a palavra “magia” na busca. Mais fácil tentar “magic”, em inglês, ou o nome do diretor, Woody Allen.

Outro bom filme antigo no catálogo do Prime é “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain”. Para buscá-lo, nem pense em digitar “fabuloso” ou “destino”. O título original, em francês, então? Nada disso. Você deve digitar apenas “amélie”, título usado no mercado americano (sim, não faz sentido para um filme francês. Mas o canal é “made in USA”).

O melhor exemplo, no entanto, é “O Julgamento de Paris”, título simpático sobre o início do sucesso dos vinhos americanos no mundo, com Bill Pullman, Chris Pine e o finado e ótimo Alan Rickman.

Mas na Prime, duas decepções: primeiro, o longa só existe dublado, sem legendas. E a cereja do bolo: ele está no banco de dados com a grafia errada: “O Juglamento de Paris”. Esse, só o Weintraub.

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Três ótimas séries que falam de racismo e negritude nos anos 1900, 1970 e 2010 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/06/09/tres-otimas-series-que-falam-de-racismo-e-negritude-nos-anos-1900-1970-e-2000/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/06/09/tres-otimas-series-que-falam-de-racismo-e-negritude-nos-anos-1900-1970-e-2000/#respond Tue, 09 Jun 2020 16:00:57 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/06/série2.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=834 Após a tragédia com George Floyd, homem negro de 46 anos que foi morto ao ter seu pescoço prensado no chão por um policial branco, reverberam em todo o mundo manifestações antirracismo.

Quem está em casa por causa da quarentena pode aproveitar o momento de reflexão para assistir a três ótimas séries que este blog sugere e que têm, entre outros assuntos, racismo e negritude como temáticas. O legal é cada uma se passa em uma época, e em diferentes contextos. Aviso: esse texto pode conter spoilers!

E você, que séries te inspiram nesse momento? Escreva para pitacocultural@gmail.com e envie sua resenha. Não esqueça de mandar nome completo, profissão, idade e cidade.

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Anos 1900: “A Vida e a História de Madam C.J. Walker”

Como uma filha de escravos que era violentada pelo marido e lavava roupas para sobreviver se tornou a mulher negra mais rica e poderosa dos EUA no início dos anos 1900? É essa história real que baseia a série disponível na Netflix.

Octavia Spencer dá vida a Madam C.J. Walker, que fez sucesso com seus produtos de beleza no início do século 20 e foi a primeira mulher negra a se tornar milionária com o próprio trabalho –entrando inclusive para o Guinness, o livro dos recordes.

Mais do que divulgar seus produtos milagrosos para o cabelo de forma eficiente, ela se torna símbolo de uma beleza real, tratando as mulheres afro-americanas e suas demandas de igual para igual.

É claro que a série adota tons ficcionais quando cria um ringue para opor Madam C.J. Walker e Addie, sua rival na época. Mas retrata também questões importantes e que de fato a empresária fez, como empregar trabalhadores afrodescendentes durante toda a execução de seu negócio –realidade muito restrita dada a segregação da época–,  e doar dinheiro para escolas e universidades focadas na formação de negros americanos.

Octavia Spencer em cena da série "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" (Reprodução)
Octavia Spencer em cena da série “A Vida e a História de Madam C.J. Walker” (Reprodução)

Anos 1970: “This is Us”

A saga da família Pearson e sua capacidade de ressignificar a dor é o lide dessa bela e aclamada série, disponível na Prime Video. Apesar de se passar nos dias atuais, ela volta a todo momento para o fim dos anos 1970 e começo dos anos 1980, quando os filhos de Jack (Milo Ventimiglia) nascem. Jack e Rebecca (Mandy Moore) têm gêmeos e adotam também Randall, criança negra que foi abandonada no Corpo de Bombeiros e está na maternidade.

Sempre que joga luz à história de vida do menino adotado, a série debate racismo estrutural. O pai biológico de Randall precisou abrir mão de criá-lo, na década de 1970, por questões sociais; Jack e Rebecca o adotam e têm dificuldade para inserir o filho em sua bolha formada por pessoas brancas.

Famílias inter-raciais eram pouco comuns na época. Os pais se veem presos a questões simples, como passar ou não protetor solar no menino, e não conhecem líderes negros que possam servir a ele como referência. Ficam divididos na hora de incentivar a ida do garoto, já adolescente, para Harvard ou Howard (esta última, universidade historicamente negra).

Randall é preterido pelo irmão adotivo, Kevin (Justin Hartley), e pela avó materna. Mas o caminho tradicional da narrativa é rompido quando ele, incrivelmente inteligente, acaba se tornando o mais bem-sucedido dos irmãos, e encontra em sua família a força para buscar suas origens.

Anos 2010: “The Good Fight”

Disponível na Prime Video, a série é derivada da bem-sucedida “The Good Wife”. Traz mulheres fortes e se passa dentro de um escritório de advocacia de elite, formado majoritariamente por profissionais negros –até que Diane (Christiane Baranski) passa a ser uma das sócias e leva sua afilhada Maia (Rose Leslie).

O texto da série foi mudado após a eleição de Donald Trump, e não nega esforços ao levantar bandeira contra o presidente americano. Teve trecho de um dos episódios censurado pela CBS, canal em que é exibida nos EUA, e colocou no lugar uma tarja preta com a mensagem “a CBS censurou este conteúdo”.

Mas, à parte das polêmicas, o roteiro de “The Good Fight” é brilhante ao mostrar, ao mesmo tempo em que empodera, debates raciais presentes até em uma firma considerada preta.

Lá pela terceira temporada, traz a tona discussões de diferença salarial entre brancos e negros dentro do escritório e o esplêndido episódio “The One where a Nazi Gets Punched” (Aquele em que um Nazista Leva um Soco), sobre um grupo que intimida eleitores na zona rural de Illinois. Nele, um negro explica por que um nazista merece apanhar.

Cena da série “The Good Fight” (Reprodução)

 

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