Pitaco Cultural https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br Suas impressões sobre filmes, peças, música e comida Tue, 07 Dec 2021 18:35:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Peça online sobre professor gay que quer adotar joga luz à intolerância https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/29/peca-online-sobre-professor-gay-que-quer-adotar-joga-luz-a-intolerancia/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/29/peca-online-sobre-professor-gay-que-quer-adotar-joga-luz-a-intolerancia/#respond Tue, 29 Jun 2021 19:22:39 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/FotoAliceJardim-2407-2-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1359 Um professor casado, de cerca de 30 anos, quer ser pai e decide adotar uma criança. Mas a história que poderia ser corriqueira é envolta em tensão no espetáculo online “Monstro”, em cartaz de quinta a domingo, gratuitamente, até 11 de julho.

Léo, protagonista da peça, é um homem gay que tem o processo de adoção negado. É para esse filho que ele não chegou a ter –Téo, um garoto negro e que sonha em ser astronauta– que ele deixa uma mensagem, gravada em vídeo no celular.

“Conversei com vários casais homoafetivos que tiveram êxito no processo de adoção. Mas o percurso deles até chegar lá não foi só de flores”, explica Ricardo Corrêa, 35, que assina a dramaturgia e protagoniza a peça da Cia. Artera de Teatro. “Vivemos num país muito conservador e a luta dessas famílias, que são guerreiras e plurais, é o que utilizo na montagem”, conta.

As entrevistas que embasam o espetáculo do Teatro Sérgio Cardoso deram origem ao curta-metragem “Monstro Também tem Sentimento“, disponível no YouTube.

O protagonista Léo em cena da pela “Monstro” (Alice Jardim/Divulgação)

Tensão política e intolerância com o público LGBTQIA+ também são destaques da peça. “Monstro” mostra, por meio das reflexões de Léo, como a sociedade pode ser violenta e transformar o homem que quer formar vínculos e uma família em um monstro, uma pessoa que não é bem-vinda junto aos demais.

Professor de natação em uma escola particular de classe média-alta, Léo tenta falar sobre inclusão e aceitação com seus alunos, crianças, mas se vê alvo de ataques.

A Cia. Artera de Teatro pesquisa a temática há quase 20 anos –no espetáculo “Bug Chaser”, por exemplo, discutiu a relação entre o risco e o prazer contidos nas práticas de “barebacking” (sexo sem preservativo) e de “bugchasing” (quando alguém procura ter relações sexuais com HIVs positivos para ser infectado).

“Vivemos no país que mais mata LGBTs. O personagem recebe essa violência da sociedade, ele é um corpo que não é aceito”, explica Corrêa. “Mas acredito no papel da arte de dar voz e colocar um olhar utópico sobre o futuro, para que as pessoas tenham esperança de que algo vai mudar e se sintam representadas.”

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Quero ser instrumento de reparação social, diz cantor pernambucano que lança clipe e marca LGBTQIA+ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/12/08/quero-ser-instrumento-de-reparacao-social-diz-cantor-pernambucano-que-lanca-clipe-e-marca-lgbtqia/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/12/08/quero-ser-instrumento-de-reparacao-social-diz-cantor-pernambucano-que-lanca-clipe-e-marca-lgbtqia/#respond Tue, 08 Dec 2020 19:25:31 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/12/juan-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1135 Ser artista independente, por si só, não é fácil. Mais difícil ainda é perpetuar a arte fora do mainstream em uma pandemia, quando muitas das opções de trabalho simplesmente acabam.

Mas foi na reclusão que o pernambucano Juan Guiã, 33, encontrou o caminho para lançar o clipe de “Te Alma”, música que vai integrar o álbum de estúdio que deve lançar em 2021. O trabalho, que fala de amor e conexões físicas e espirituais, chega junto com uma grife de roupas agênero, cujo lucro será revertido para o Instituto Transviver, que o cantor criou com a mãe em Recife há três anos.

No projeto, Juan atende a população LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade, oferecendo serviços como orientação para retificação de nome, ajuda psicológica, formação e aula de idiomas. Ainda que na pandemia, como ele mesmo diz, o trabalho tenha dado passos para trás. “Nossos assistidos estavam em outras camadas e voltaram a precisar de comida, de saneamento, de coisas que a gente já tinha ralado muito para mudar.”

“Sempre pensei em ser um instrumento de reparação social, em encontrar brechas no meu próprio cotidiano para fazer a diferença na vida de outra pessoa”, afirma o cantor. “Vejo como estamos aquém de São Paulo ou do Rio; não existem casas de acolhimento no nordeste. E isso reverbera totalmente nas pessoas que atendemos”.

Não é a primeira vez que Juan Guiã destina parte da arrecadação que tem com seu trabalho ao projeto –os lucros da música “Bacurau”, lançada antes da pandemia, também foram destinados ao Transviver. “Acho que isso inspira outras pessoas a pensar no coletivo. É movimentar, dar a ideia, dar a voz. Isso é muito potente”, diz.

Em “Te Alma”, o artista –que é dançarino desde os 14 anos e já atuou em “Malhação”, na rede Globo–, explora não apenas a música, mas também as artes cênicas em uma espécie de performance. Figurinos e adereços são de sua autoria. “Aprendi a fazer luz e cenários sozinho, olhando, vendo montagens. No começo não tinha como pagar um cenógrafo, um figurinista, um criador. Tinha que entregar tudo sempre muito andado”, conta. A direção musical é de Henrique Macedo.

Para lançar a grife de moda Te Alma, paralelamente à música, Juan contou com a ajuda de uma das assistidas do Instituto Transviver, Maju Andrade, que posou com o figurino. “Ela quer trabalhar como modelo, então consegui juntar as duas coisas”, conta. “Tento me movimentar para dar voz àqueles que não têm. A gente não tem lugar de fala em determinados pontos, mas é muito importante quando entendemos e passamos a conviver com eles.”

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‘Vivi as transfobias de Valentina’, diz atriz que interpreta garota trans em filme da Mostra de Cinema https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/10/27/vivi-as-transfobias-de-valentina-diz-atriz-que-interpreta-garota-trans-em-filme-da-mostra-de-cinema/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2020/10/27/vivi-as-transfobias-de-valentina-diz-atriz-que-interpreta-garota-trans-em-filme-da-mostra-de-cinema/#respond Tue, 27 Oct 2020 19:38:11 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2020/10/valentina2-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1059 Ela tem 17 anos e acaba de se mudar para uma pequena cidade do interior de Minas Gerais. Passaria por uma adaptação comum na vida de qualquer adolescente se não fosse por uma questão: na tentativa de evitar intimidações, Valentina, garota transexual, quer se matricular na nova escola com seu nome social.

Começa, assim, uma série de dilemas. Despreparada, a escola passa a exigir a assinatura do pai ausente da menina para que ela use seu nome no local, e os moradores da cidade passam a hostilizá-la e a submetem a agressões físicas e morais quando descobrem sua história.

O drama ilustrado no longa “Valentina”, em cartaz na 44ª Mostra Internacional de Cinema, é rotineiro para muitos jovens transgênero: apenas 0,02% estão em universidades e 72% não concluem o ensino médio, segundo dados do projeto Além do Arco-Íris, da AfroReggae. Emprego formal, então, é exceção para trans e travestis no Brasil.

“As transfobias cotidianas de Valetina eu vivi, e toda menina transexual sofre. Mas não se trata só de agressões físicas. Você não ser aceita em um lugar; o menino rir da sua cara; não respeitarem seu nome… tudo isso é uma agressão”, conta a youtuber Thiessa Woinbackk, 30, que estreia como atriz na Mostra.

Thiessa também cresceu em uma cidade pequena, Catalão, no interior de Goiás, e conta que vivenciou muito de sua personagem até se mudar para São Paulo –mas com alguns pontos dissonantes. “Valentina tem a mãe ao lado que eu nunca tive. E ela se entendeu mulher muito nova, eu demorei mais.”

A relação de Valentina com a mãe [interpretada por Guta Stresser] também é um ponto forte e preponderante do filme. Enquanto a menina encontra acolhimento na força feminina, ela é invalidada e desrespeitada pelo masculino. A mãe, mesmo simples e sem recursos, a ampara; o pai tem vergonha.

Para Thiessa, a luta da personagem para ser matriculada por seu nome social reflete a batalha real dessas pessoas por identidade. “A Anitta [cantora] não se chama Anitta, mas todo mundo respeita. Por que não fazer isso com pessoas trans? É tão simples. Não deveria nem ser uma questão. Mas o mundo ainda é tão retrógrado que a gente precisa falar sobre isso. Temos que normalizar.

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Valentina. 44ª Mostra de Cinema. R$ 6, em mostraplay.mostra.org.

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E você, que filmes ou séries te inspiram nesse momento? Escreva para pitacocultural@gmail.com e envie sua resenha. Não esqueça de mandar nome completo, profissão, idade e cidade.

Guta Sresser e Thiessa Woinbackk em ‘Valentina’ (Reprodução)
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