Pitaco Cultural https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br Suas impressões sobre filmes, peças, música e comida Tue, 07 Dec 2021 18:35:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Humorista da ‘Pifãizer’ lança especial de comédia e lembra: ‘A gente não existe só no dia que viraliza’ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/19/humorista-da-pifaizer-lanca-especial-de-comedia-e-lembra-a-gente-nao-existe-so-no-dia-que-viraliza/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/08/19/humorista-da-pifaizer-lanca-especial-de-comedia-e-lembra-a-gente-nao-existe-so-no-dia-que-viraliza/#respond Thu, 19 Aug 2021 14:00:02 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/esse-menino-2-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1427 Desde o dia 9 de junho, ficou difícil ler qualquer notícia relacionada à vacina da Pfizer sem falar, ainda que mentalmente, “Pifãizer”. É que foi nessa data que o humorista mineiro Esse Menino, 25, viralizou ao ironizar as inúmeras tentativas –sem sucesso– da fabricante em vender o imunizante ao governo brasileiro.

O caso, revelado pela CPI da Covid, acabou servindo de base para a esquete que bombou nas redes sociais e que conta, até agora, com mais de 20 milhões de visualizações. “Inventei de fazer um vídeo sobre a notícia, e aí minha vida mudou”, relata o artista.

Mas o que parece sorte ou um tiro certeiro é o reflexo de uma carreira já consolidada no humor, e que dá agora novo passo com o lançamento do especial de comédia “Poodle”. O projeto audiovisual independente foi criado e gravado antes do vídeo da “Pifãizer”. Ele tem roteiro, produção e performance de Esse Menino, e conta com as participações das cantoras Duda Beat, Jup do Bairro e  do jornalista Chico Felitti.

“Eu criei esse texto para ser feito no palco, ao vivo, mas quando vi que a pandemia não ia acabar, pensei: é isso [formato online] que eu tenho agora”, explica o comediante. Em “Poodle”, Esse Menino joga um olhar muito bem-humorado, e igualmente crítico, aos estereótipos e clichês que orbitam os gays –tanto no dia a dia quanto na mídia e na televisão.

Dividido em cinco atos — negação, revolta, depressão, barganha e aceitação–, o projeto de comédia usa as fases do luto para falar de um gay militante que “morre” dentro de si e acaba se tornando uma pessoa alienada.

“Pensei: e eu fosse cada vez mais matando esse militante que existe em mim, o que eu viraria? Viraria essa ‘bicha poodle’, uma gay pet que só faz graça para os héteros”, explica Esse Menino. Assim, o comediante desenvolve o especial mostrando um homem que se perde nas próprias convicções e acaba domesticado, caricato.

Esse Menino aborda padrões impostos aos LGBTQIA+ pela sociedade, pela mídia e a também critica a cultura do cancelamento. “Qual a forma mais fácil de [uma marca] pegar uma pauta importante e mostrar que está preocupada com ela? É falar: agora todo comercial vai ter uma pessoa preta, uma pessoa gay e pronto”, diz. “Mas esse comercial, muitas vezes, mostra que você só é aceito ao se encaixar em padrões. É uma lavagem de quem a gente é, uma homogeneização. Nós estamos felizes com isso?”, indaga.

O formato de “Poodle” não foi alterado depois que o artista viralizou. O roteiro inicial foi elaborado para um edital de micropeças da Prefeitura de Belo Horizonte, com cerca de 10 minutos, e acabou expandido para 40. Está disponível para compra por R$ 20 até esta sexta (20), e exibição até domingo, em uma plataforma colaborativa.

Depois, o projeto deve seguir para o YouTube ou algum streaming que se interessar. “Estou me vendendo mesmo”, brinca. “Quero juntar um dinheiro porque, possivelmente, no ano que vem essa galera vai olhar para mim e falar: ‘ai, não sei mais se ele está tão legal quanto era'”.

“Eu sei de vários artistas independentes que, na pandemia, não conseguem mais pagar as contas. Não acho que todo mundo tem que popularizar, mas sei da dificuldade e me sinto muito sortudo por fazer uma arte que atraia publicidade”, relata Esse Menino. “A gente não existe só no dia que a gente viraliza.”

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“Poodle”. Especial de comédia de Esse Menino. R$ 20. Ingresso: R$ 20, para evoe.cc/essemenino. Até 20 de agosto.

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Com Liniker, ‘Manhãs de Setembro’ coloca transexualidade e maternidade sob novos aspectos https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/07/07/com-liniker-manhas-de-setembro-coloca-transexualidade-e-maternidade-sob-novos-aspectos/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/07/07/com-liniker-manhas-de-setembro-coloca-transexualidade-e-maternidade-sob-novos-aspectos/#respond Wed, 07 Jul 2021 19:53:40 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/cassandra-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1383 Novidade na Amazon Prime, “Manhãs de Setembro” chegou ao serviço de streaming alçando a cantora e atriz Liniker ao seu primeiro papel como protagonista. Mais do que isso, deu a uma mulher trans o lugar máximo de destaque na trama.

Mas um dos pontos altos talvez seja o fato de que a série fala de marginalidades com a mesma intensidade que fala de amor e laços.

A protagonista Cassandra, uma mulher transexual que acabou de alugar seu próprio espaço –uma kitnet no centro de São Paulo–, se vê de frente com um passado que nem sabia que existia, e que não sabe se quer assumir: um filho.

Gersinho (interpretado pelo ator Gustavo Coelho) surge com a mãe, a impetuosa Leide (Karine Teles), uma mulher autônoma que ganha a vida vendendo todo tipo de produto nos faróis da cidade.

Sem dinheiro, em desespero e morando com o filho em um carro velho embaixo do viaduto, Leide decide procurar Cassandra, com quem se relacionou brevemente antes da transição. Porém, a recepção não é exatamente calorosa.

Materializar a ideia de ser “pai” se mostra como uma ameaça para tudo que Cassandra tem até aquele momento. Não apenas financeiramente, mas também como mulher que finalmente tem uma casa, dois empregos –motogirl e cantora– e um namorado apaixonado. Isso no contexto de morar no país que mais mata gays e transexuais.

É então que a série se abre em diversas camadas. Ao mesmo tempo que ressalta preconceito, joga luz a representatividade, conquistas e afetos.

Cassandra encontra toda rede de apoio de que precisa em seus amigos e é amada –mas o namorado, casado, não tem coragem de deixar a esposa e assumir o novo relacionamento. Por outro lado, ela não quer a responsabilidade de ter um filho. “Virou uma mulher, mas por baixo ainda é um ‘boy lixo'”, diz Leide ao pai de seu filho.

O medo de encarar o que está por vir confunde a protagonista, que tenta seguir como se nada estivesse acontecendo, mas não tem coragem de jogar o filho recém-chegado para baixo do tapete.

Karina Teles e Gustavo Coelho em ‘Manhãs de Setembro’ (Divulgação)

“Manhãs de Setembro” promove o encontro de uma mãe solo, ambulante, com uma mulher que nasceu no corpo de um homem e que está desabrochando em seu espaço recém-conquistado.

Elas têm embates, mas carecem da mesma aceitação. E a personagem de Liniker é tão importante porque acerta e erra, tem medo e sente ódio. Gera raiva no espectador ao mesmo tempo em que cria empatia.

Entre sentimentos conturbados, Cassandra e Leide são humanas. E a série de apenas cinco episódios (por enquanto) ganha pontos por não romantizar e nem endurecer suas histórias, apenas contá-las.

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Peça online sobre professor gay que quer adotar joga luz à intolerância https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/29/peca-online-sobre-professor-gay-que-quer-adotar-joga-luz-a-intolerancia/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2021/06/29/peca-online-sobre-professor-gay-que-quer-adotar-joga-luz-a-intolerancia/#respond Tue, 29 Jun 2021 19:22:39 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/FotoAliceJardim-2407-2-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=1359 Um professor casado, de cerca de 30 anos, quer ser pai e decide adotar uma criança. Mas a história que poderia ser corriqueira é envolta em tensão no espetáculo online “Monstro”, em cartaz de quinta a domingo, gratuitamente, até 11 de julho.

Léo, protagonista da peça, é um homem gay que tem o processo de adoção negado. É para esse filho que ele não chegou a ter –Téo, um garoto negro e que sonha em ser astronauta– que ele deixa uma mensagem, gravada em vídeo no celular.

“Conversei com vários casais homoafetivos que tiveram êxito no processo de adoção. Mas o percurso deles até chegar lá não foi só de flores”, explica Ricardo Corrêa, 35, que assina a dramaturgia e protagoniza a peça da Cia. Artera de Teatro. “Vivemos num país muito conservador e a luta dessas famílias, que são guerreiras e plurais, é o que utilizo na montagem”, conta.

As entrevistas que embasam o espetáculo do Teatro Sérgio Cardoso deram origem ao curta-metragem “Monstro Também tem Sentimento“, disponível no YouTube.

O protagonista Léo em cena da pela “Monstro” (Alice Jardim/Divulgação)

Tensão política e intolerância com o público LGBTQIA+ também são destaques da peça. “Monstro” mostra, por meio das reflexões de Léo, como a sociedade pode ser violenta e transformar o homem que quer formar vínculos e uma família em um monstro, uma pessoa que não é bem-vinda junto aos demais.

Professor de natação em uma escola particular de classe média-alta, Léo tenta falar sobre inclusão e aceitação com seus alunos, crianças, mas se vê alvo de ataques.

A Cia. Artera de Teatro pesquisa a temática há quase 20 anos –no espetáculo “Bug Chaser”, por exemplo, discutiu a relação entre o risco e o prazer contidos nas práticas de “barebacking” (sexo sem preservativo) e de “bugchasing” (quando alguém procura ter relações sexuais com HIVs positivos para ser infectado).

“Vivemos no país que mais mata LGBTs. O personagem recebe essa violência da sociedade, ele é um corpo que não é aceito”, explica Corrêa. “Mas acredito no papel da arte de dar voz e colocar um olhar utópico sobre o futuro, para que as pessoas tenham esperança de que algo vai mudar e se sintam representadas.”

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