Pitaco Cultural https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br Suas impressões sobre filmes, peças, música e comida Tue, 07 Dec 2021 18:35:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sete motivos para assistir a Denise Fraga no monólogo ‘Eu de Você’ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2019/10/24/sete-motivos-para-assistir-a-denise-fraga-no-monologo-eu-de-voce/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2019/10/24/sete-motivos-para-assistir-a-denise-fraga-no-monologo-eu-de-voce/#respond Thu, 24 Oct 2019 14:57:19 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/10/denise-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=425 Ir ao teatro é sempre uma experiência única. A gente pode ler a sinopse, conhecer os atores, saber a história antes… mas é no palco, ao vivo, que tudo se revela. E é tão gostoso se surpreender!

Pois é surpreendente, e muito, ver Denise Fraga em “Eu de Você”, seu primeiro monólogo em mais de 30 anos nos palcos. A montagem está em cartaz no Teatro Vivo, em São Paulo –o espaço foi reinaugurado após nove meses de reforma e ganhou mais acessibilidade para espectadores que têm algum tipo de deficiência.

“Eu de Você” se inspira em dezenas de histórias de pessoas comuns que compartilharam com a produção suas inquietudes, medos e melancolias. É uma obra que fala com sensibilidade e poesia sobre arte, vida e política. Veja sete motivos para assistir à peça.

1. Denise está mais íntima do público do que nunca. Além de receber a todos na entrada, ela interage e traz o espectador para dentro da peça, com extrema delicadeza, em diversos momentos.

2. Ela fala de histórias reais. Uma mulher que tenta sobreviver ao ritmo acelerado do trabalho; um frequentador de karaokê que é assaltado e se apaixona pelo assaltante; uma professora que encontra um ex-aluno no parque e pede perdão; uma negra que vivia em uma relação abusiva e consegue se libertar… Ao se apropriar de situações de dezenas de pessoas, faz críticas ao mundo moderno, à política e ao machismo.

3. Ela conta as histórias e as entrelaça com as suas próprias. Alterna com maestria o texto da terceira para a primeira pessoa, e com esse roteiro expressa quando os seus sentimentos se misturam com os dos personagens que está ressaltando. Fala sobre a habilidade da sua mãe de nadar, ou do pai, que gostava de cantar.

4. Denise também canta. “É o Amor”, “Fogo e Paixão”, “All you Need is Love”. Mas não há técnica ou intenção de se aproximar de um musical –ali, as músicas ganham sentido no contexto das histórias e mostram também as inquietudes da própria atriz.

5. O jogo de luzes em cena é incrível. Praticamente não há cenário, mas os recortes de luz transportam o espectador a vários locais, além de darem espaço para a imaginação.

6. Trechos de autores renomados, como Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e Valter Hugo Mãe, são citados no monólogo, acentuando o lirismo de sua interpretação.

7. Ela faz uma homenagem ao teatro, e deixa claro: ele sempre vai existir, e resistir.

Jogo de luzes em ‘Eu de Você’, com Denise Fraga (Lenise Pinheiro/Folhapress)

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Eu de Você. Teatro Vivo – av. Dr. Chucri Zaidan, 2.460, Morumbi, São Paulo. Sex.: 20h. Sáb.: 21h. Dom.: 19h. Até 15/12. Ingr.: R$ 50 a R$ 70, em ingressorapido.com.br

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Lamento os cortes e a tentativa de censura, diz Irene Ravache, que volta aos palcos em SP https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/18/lamento-os-cortes-e-a-tentativa-de-censura-diz-irene-ravache-que-volta-aos-palcos-em-sp/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2019/09/18/lamento-os-cortes-e-a-tentativa-de-censura-diz-irene-ravache-que-volta-aos-palcos-em-sp/#respond Wed, 18 Sep 2019 14:00:04 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/irene-1-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=299 “Para morrer, basta estar vivo”.

É assim que a personagem de Irene Ravache reforça aos espectadores sua condição de morta no monólogo “Alma Despejada”, que entra em cartaz nesta quarta-feira (18) em São Paulo. “Quando li o roteiro, fiquei pensando: como será que as pessoas vão reagir ao fato de ela não estar viva?”, diz a atriz ao Pitaco.

Mas não há, de fato, nenhuma grande questão com o lado mórbido da peça. É justamente por interpretar uma personagem morta —isso não é um spoiler—, que Irene ganha o distanciamento necessário para fazer reflexões sobre vida, política e envelhecimento com maestria.

O texto foi escrito por Andréa Bassitt (de “As Turca” e do infantil “Operilda na Orquestra Amazônica”) especialmente para Ireve Ravache, e tem direção de Elias Andreato. “Tenho umas dez peças que comecei a escrever para a Irene, mas nada ia para frente. Então comecei o monólogo e fui achando um caminho”, conta Andréa.

Com ótimo jogo de palavras, “Alma Despejada” fala de questões comuns. Teresa, uma senhora de cerca de 70 anos, faz sua última visita à casa que morava com o marido e os dois filhos antes de morrer (o imóvel foi vendido e será ocupado por um jovem casal), e reflete sobre a vida feliz e imperfeita que teve por lá.

O monólogo retém o espectador do início ao fim por ser carregado de poesia, mas ao mesmo tempo ter um humor leve que abranda temas mais complexos. Quando a personagem versa sobre questões políticas que envolveram o marido, não se preocupa em tomar partido. Fica no espectador a dúvida: ela sabia ou não dos crimes que ele cometia?

“No início da carreira eu fazia um teatro muito politizado, em cima de caminhão, com a polícia atrás. Eu queria voltar a falar de política, mas de outra forma. Depois que me tornei produtora, meus espetáculos são mais investigativos da alma humana”, explica a veterana.

Por esse cuidado com o texto, pela sutileza do cenário e, é claro, pela atuação de Irene Ravache —no auge de seus 75 anos de idade e 56 de carreira—, o pitaco deste blog é de que vale a pena assistir ao espetáculo. Mesmo quem não está acostumado com monólogos vai se surpreender e aplaudir de pé.

CULTURA, CORTES E CENSURA

Mudanças na lei Rouanet impactaram também a estreia do monólogo, que demorou mais tempo para sair do papel, conta a autora Andréa Bassitt. Além disso, no dia da conversa do Pitaco com Irene Ravache e a produção da peça, a Folha noticiou novos cortes do governo à cultura —desta vez, atingindo a Ancine (Agência Nacional do Cinema).

Um projeto de lei apresentado ao Poder Legislativo prevê, em 2020, redução de quase 43% do orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual. É a menor valor para o fundo desde 2012, quando ele recebeu R$ 112,36 milhões. “Não sinto a democracia ameaçada, mas lamento os cortes, as atitudes, a tentativa de censura”, diz Irene quando questionada sobre o assunto.

“Creio que isso acontece porque as pessoas não gostam de cultura. Conheço alguns políticos, e poucos vi indo ao teatro. Imagino que as pessoas que estão em cargos como secretário e ministro [na pasta da Cultura] talvez quisessem estar em outros lugares. Eles não estão apaixonados por aquilo.”

Irene Ravache em cena de ‘Alma Despejada’ (Andreia Machado/Divulgação)

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Alma Despejada. Teatro Porto Seguro. Al. Br. de Piracicaba, 740, Campos Elíseos, São Paulo, tel. 3226-7300. Qua. e qui.: 21h. Até 28/11. Ingr.: R$ 60 a R$ 70 p/ tudus.com.br.

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Em dias árduos, espetáculo de Marco Luque é boa pedida para rir sem medo https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/07/em-dias-arduos-espetaculo-de-marco-luque-e-boa-pedida-para-rir-sem-medo/ https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/2019/08/07/em-dias-arduos-espetaculo-de-marco-luque-e-boa-pedida-para-rir-sem-medo/#respond Wed, 07 Aug 2019 11:15:38 +0000 https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/marco-luque-300x215.jpg https://pitacocultural.blogfolha.uol.com.br/?p=185 Marco Luque, 45, estreou na última quinta (1°) a temporada de seu espetáculo “Todos por Um”. Em cartaz até 28 de novembro no teatro Frei Caneca, em São Paulo, a peça marca o retorno do humorista aos palcos após três anos e reapresenta personagens queridos do púbico, como o motoboy Jackson Faive e a diarista Mary Help.

Em pouco mais de uma hora de espetáculo, Luque transita por diferentes timbres de voz, trejeitos, figurinos e temáticas. Abre a peça com o egocêntrico Charles Charlaton, mágico que realiza truques meia-boca e interage com a plateia (e para o qual o ator precisou ter aulas com um profissional da área).

Mas é a possibilidade de rir sem pesar a mão com ofensas ou política que faz de “Todos por Um” uma boa escolha para quem quer ter, digamos assim, uma hora mais leve. Nosso pitaco é de que vale a pena assistir, sobretudo para quem precisa espairecer e desligar um pouco do noticiário.

Ainda que os personagens já sejam velhos conhecidos do público, os textos são novos (de autoria do próprio ator em parceria com Guilherme Rocha), sagazes e ligeiros. Mesmo que seja possível perceber que seguem uma base, Luque abre espaço para alguns improvisos e reage junto com a plateia.

Destacam-se as esquetes de Silas Simplesmente, um taxista dos anos 1970 que incrementa seu carro para agradar os passageiros –as piadinhas de cunho sexual arrancam gargalhadas. De Mustafáry, o controverso hippie que viralizou com o vídeo do Serumaninho, cachorro que encontrou numa praia. E da diarista Mary Help, que faz surpresa ao apresentar ao público, em vídeo, declarações “apaixonadas” de celebridades como Kaká, Alexandre Nero, Thiaguinho e Mateus Solano.

O quadro de Ed Nerd, um rapaz que sofreu bullying na escola e quer se vingar dos colegas, faz bom uso da interação com luzes do palco e telão –é o mais tecnológico de todos. Mas se alonga e cansa um pouco. E Silver, o roqueiro “americano de Americana”, passaria batido perto dos demais –não fosse a desenvoltura irresistível de Luque com a gaita.

Mais esperado da noite, o motoboy paulistano Jackson Faive entrega aos espectadores o que eles esperam. Irreverente, tem bom espaço no roteiro e fecha o espetáculo em alta.

E aí, não tem jeito: o público aplaude em pé.

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Todos por Um. Teatro Frei Caneca – r. Frei Caneca, 569, shopping Frei Caneca (7º andar), São Paulo, SP. Quintas, às 21h, até 28/11. Ingr.: R$ 100 (inteira) p/ bileto.sympla.com.br.

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