Para leitor, narrativa e fim apoteótico prendem espectador em filme de Tarantino
O pitaco de hoje é do leitor Robson Silva, de 30 anos, que mora em São Carlos, no interior de São Paulo. Robson é estudante de letras, trabalha na editora da UFSCar e costuma escrever resenhas de filmes. “Faço mais como um passatempo divertido para mim”, conta.
Para o Pitaco Cultural, Robson fala de “Era uma vez em… Hollywood”. O filme de Quentin Tarantino é ambientado na Los Angeles de 1969 e tem como pano de fundo o crescimento da seita comandada por Charles Manson e a relação de um antigo astro do faroeste e seu dublê, que tentam sobreviver às mudanças na indústria cinematográfica. Confira.
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Entre personagens reais e fictícios, Tarantino recria a Hollywood de 1969, quando o cinema não acompanhava mais os anseios da juventude norte-americana e precisava passar por uma revitalização urgente. Mas alguns astros não sabiam como se encaixar nessa nova fase em que os épicos de faroeste não conseguiam dialogar com o público –e aí entra Rick Dalton, um astro da TV tentando migrar para o cinema, sem sucesso, em um ótimo trabalho de Leonardo DiCaprio.
Como dependente de Rick, o seu dublê Cliff (Brad Pitt) também não consegue achar seu lugar. Mas Cliff não parece ser do tipo que se importa; ele prefere passar seu tempo livre dirigindo sem rumo pela cidade. Do trio de protagonistas, a única realmente feliz é Sharon Tate, que sempre está sorrindo ou dançando –uma atuação mais expressiva que falada de Margot Robie. A felicidade de Tate causa apreensão no espectador, que já conhece o destino da atriz na vida real, assassinada por fanáticos seguidores de Charles Manson.
“Era uma Vez” lembra a estrutura de filmes como “Magnólia”, com várias histórias sendo contadas ao mesmo tempo, sem ligação, e todos os fios narrativos unidos em um final apoteótico. O filme vai contando a história dos personagens sem deixar muito claro onde quer chegar. É apenas o cotidiano de Hollywood. E mesmo com essa aparente falta de objetividade, não vemos o tempo passar nas suas quase três horas de duração. Isso se deve à criatividade do Tarantino de criar diálogos interessantes e cenas longas e tensas.
É perceptível que houve muita pesquisa para fazer o roteiro. A forma como viviam os seguidores da seita de Charles Manson é um retrato fiel do que realmente aconteceu, e se tratando desse culto, qualquer obra que quisesse inventar demais ficaria devendo à realidade (que foi muito bizarra). A vida boêmia de Sharon Tate também é mostrada, mas com muito respeito pela história da atriz. Não é obrigatório para apreciar o filme, mas conhecer a história dessa época eleva muito a experiência.
“Era uma Vez” é uma declaração de amor que Tarantino faz ao cinema, e faz com que a gente sinta essa mesma paixão.
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Era uma vez em… Hollywood. Veja salas e horários em São Paulo aqui.
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