Como são (e quem come) os hambúrgueres de plantas do Burger King e do Bob’s

Hambúrguer “plant-based” (à base de plantas) pegou. De uma hora para a outra, foi um tal de hambúrguer vegetal nas plateleiras do mercado, nas lanchonetes mais bombadinhas de São Paulo, nas redes sociais dos chefs… (Paolla Carosella, por sinal, foi um dos profissionais que desaprovou totalmente a invenção).

Fiquei curiosa para provar a carne que parece carne, mas não é. E me chamou atenção especialmente que redes populaes de fast-food –no caso, Burger King e Bob’s–, resolveram investir no produto feito à base de soja e vegetais. Não seria arriscado apostar em algo desconhecido pela população?

Desde setembro, o Burger King oferece o Rebel Whopper, uma releitura do Whopper, com hambúrguer de plantas produzido pela Marfrig. No Bob’s, a opção é o Tentador Zero Beef, com “carne” desenvolvida pela Fazenda Futuro, no menu desde agosto.

E por que provar Burger King e Bob’s? Porque é mais fácil uma “carne” de plantas ficar gostosa quando é envolta por maionese artesanal de páprica, pão de fermentação natural, ketchup caseiro defumado… e outras coisas que hamburguerias mais sofisticadas da capital paulista oferecem. Mas, e no bom e velho fast-food, como é que fica?

Hambúrguer vegetal do Bob’s (Divulgação)

À primeira vista fica muito bem, obrigado. O sanduíches são gostosos e, no contexto geral –com seus respectivos acompanhamentos e tudo mais–, lembram bem as versões com carne bovina.

O Rebel Whopper (R$ 29,90, no combo), do Burger King, leva alface, tomate, picles, queijo e maionese (que podem ser retirados na versão vegana). Preserva o gostinho de grelhado (como churrasco), típico da rede. A fatia da “carne” vegetal é um pouco tímida, fininha, mas é suculenta e cai bem.

O Tentador Zero Beef (R$ 28, no combo) traz um hambúrguer vegetal mais gordinho dentro do pão brioche, com maionese, alface e tomate. Ali, até pela espessura, é possível identificar com mais clareza que –opa!– não se trata de carne. Mas tudo bem, ele engana e é saboroso.

O que achei inusitado é que os hambúrgueres são gordurosos. Não que eles tenham uma camada de gordura aparente, como teria um pedaço de picanha. Mas dá para notar que são oleosos (para tirar a prova, é só encostar um guardanapo). E devem ter uma quantia elevada de sódio, já que, depois de comer, tive muita sede.

Outro ponto: lembram carne, mas não são. Dificilmente um carnívoro trocaria seu hambúrguer bovino por um vegetal com prazer. E vice-versa: o vegetariano, que já se adaptou a viver sem carne, não vai procurar um produto que traz à boca o gosto de boi.

É aí que está a resposta: os hambúrgueres “plant-based” focam no público flexitariano, ou seja, pessoas que comem carne, mas buscam reduzir o consumo da proteína animal. Com essa pegada, o Burger King já vendeu 100 mil unidades desde seu lançamento, e acaba de levar o produto, antes restrito a Rio e São Paulo, a todas as unidades da rede.

De acordo com Antonio Detsi, diretor geral do Bob’s, o hambúrguer vegetal –que está em fase de análise nas lojas de São Paulo e do Rio– também teve boa recepção e deve chegar a toda a rede gradativamente.

O fato é que eu, autora deste blog, ainda prefiro apostar nos hambúrgueres tradicionais ou nos naturebas, feitos com cogumelos e grão-de-bico. Mas não nego que os “plant-based” são uma opção interessante. Mais interessante ainda por estarem inseridos em redes de fast-food, próximos a um grande público, e não restritos aos nichos de restaurantes em bairros frequentados só pela classe média-alta.

Seria um passo para a democratização da alimentação livre de crueldade? A gente teria que falar não só de endereço, mas também de preços. E, aí, já é uma outra história.

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