Peça de Sartre mostra que é possível pensar a política sem ser vulgar, diz leitor
O pitaco de hoje é do leitor Octávio Ferraz, de 22 anos. Otávio é estudante de Gestão de Políticas Públicas na USP, trabalha na Secretaria de Cultura e Economia Criativa e vai ao teatro esporadicamente. “Gostaria de ir mais, às vezes lamento por ter deixado passar alguma peça”, diz ele. “Mas é sempre uma experiência marcante”.
Para o Pitaco, escreve sobre a peça “As Mãos Sujas”, em cartaz até domingo (24/11) no Sesc Ipiranga. O espetáculo encena o texto homônimo do existencialista francês Jean-Paul Sartre. Na trama, um jovem precisa fazer um acordo entre partidos políticos.
A montagem também dialoga com o universo do filme “Terra em Transe” (1967), do cineasta Glauber Rocha, e foi avaliada como ótima (cinco estrelas) pela crítica da Folha.
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A representação de “As Mãos Sujas” traz um telão, ao lado dos atores, em que as cenas são projetadas em tempo real. Assim, detalhes (como o tamborilar na mesa) e planos alternativos são revelados; além disso, há música ao vivo, e alguns atores transitam entre instrumento e representação.
Esses dois itens, contudo, não são o cerne da peça. Talvez sejam roupagem e conversa com outras artes, mas especialmente servem de auxílio ao principal, presente na montagem: a entrega comovente do elenco, que, ao lado do texto, faz do teatro experiência única, carregada da aura benjaminiana.
As três horas de espetáculo passam leve e rapidamente. A base do texto se assenta em reflexões sobre política e liberdade, mas nada muito solene e grave; o humor acompanha quase toda a peça.
Contradições entre partido e indivíduo, linha de atuação pragmática e princípios, ideias e ações, aparecem e talvez nos lembrem que, sendo a política umas das esferas da vida, são possíveis e necessários pensamentos sobre ela de forma não vulgar.
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As Mãos Sujas. Sesc Ipiranga. Rua Bom Pastor, 822, Ipiranga, São Paulo. Sex. e sáb.: 20h. Dom.: 18h. Até 24/11. R$ 30.
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