Oscar negligencia produções, mas premia filme além de suas fronteiras, diz leitor

Nesta segunda (9) vamos com o pitaco do leitor Adilson Carvalho, 50, do Rio de Janeiro. Adilson é professor de inglês e português e foi assistente do crítico Rubens Ewald Filho até sua morte –não surpreende, portanto, sua predileção por cinema.

Para o blog, ele escreve o que achou dos premiados do Oscar 2020.

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A 92ª edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood foi em parte feita de compensações. Em um momento em que as mulheres ganharam espaço maior e merecido, nas artes e na mídia internacional, Greta Gerwig foi negligenciada pela Academia como melhor diretora, mas Jacqueline Durran conseguiu levar o prêmio de melhor figurino por “Adoráveis Mulheres”.

As rivais DC Comics e Marvel foram representadas no palco por Gal Gadot (Mulher Maravilha) e Brie Larson (Capitã Marvel) junto à icônica Sigourney Weaver, anunciando a primeira maestrina a conduzir as trilhas sonoras indicadas, prêmio dado para “Coringa”.

Compensação histórica foi a esperada vitória de Renée Zellweger por “Judy – Muito Além do Arco Íris”, retratando a lendária Judy Garland, uma das maiores injustiçadas em 92 anos de premiação.

Embora Taron Egerton tenha sido esnobado em sua personificação de Elton John, “Rocketman” levou a estatueta de melhor canção para “I’m Gonna Love Me Again”, cuja apresentação no palco foi minha favorita em uma noite de números musicais com nomes como Eminem, Janelle Monáe e Billie Eilish, vitoriosa no Grammy, convidada pela Academia para uma bela interpretação de “Yesterday” dos Beatles na hora do In Memorian.

O favoritismo da eterna Bridget Jones repetiu-se com Joaquin Phoenix em “Coringa”, tendo este feito um dos mais belos discursos da noite. Mas foi Brad Pitt quem abriu a noite com o prêmio de melhor ator coadjuvante por “Era em uma vez em Hollywood”. Favoritismo foi também o tom da vitória de Laura Dern por “História de um Casamento”, além de mais uma vitória da Disney com o prêmio de melhor animação por “Toy Story 4” –mostrando que a história de Woody e Buzz ainda tem fôlego.

O Brasil foi desprezado quando Idina Menzel e um elenco de vozes internacionais fizeram uma bela performance mostrando versões da princesa Elza em japonês, russo, espanhol, dinamarquês, entre outros, mas não vimos a presença de Taryn Szpilman, a Elza brasileira. O Brasil também foi preterido quando Petra Costa perdeu o prêmio de melhor documentário, anunciado por Mark Ruffalo, para “Indústria Americana”.

O sul coreano Bong Joon Ho foi o grande vencedor da noite com passagem histórica para “Parasita” faturando quatro prêmios, melhor roteiro original, melhor filme estrangeiro, melhor diretor e melhor filme, um feito de admirável ineditismo, em uma história provocante para o conservadorismo da era Trump. A presença de Jane Fonda trajando vermelho ao final acentuou o tom provocativo, depois que a atriz e ativista foi várias vezes presa por protestos contra a política antiambientalista do atual governo.

Os prêmios técnicos reconheceram o difícil trabalho de mixagem de som para “1917”, de Sam Mendes. Este, de dez indicações, ficou reduzido a três prêmios, incluindo o de melhor efeitos visuais e melhor fotografia –este para o excelente Roger Deakins. Já “Ford vs Ferrari” levou dois prêmios para melhor montagem e melhor edição de som, um digno canto do cisne para a extinta 20th Century Fox.

O que dizer então da Netflix, que saiu vitoriosa apenas com o prêmio de Laura Dern por “História de um Casamento”, mas que teve “Dois Papas” e o excelente “O Irlandês” –este ignorado nas dez categorias para os quais foi indicado?

Se não houve a diversidade esperada, tivemos algumas surpresas e momentos que já são memoráveis como os aplausos a Martin Scorcese ou a rendição de Hollywood ao fato de o melhor filme poder estar além de suas fronteiras, e que o cinema, mais que diversão, é arte internacional.

Dedico este texto à memória do meu amigo e mentor Rubens Edwald Filho.

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