Com chinelo, cerveja e bom-humor, Marília Mendonça segura live no vozeirão
Quem acompanha a carreira de Marília Mendonça e a viu despontar não só como compositora, mas também como cantora, sabe que o jeito “simplão” da artista sempre foi um de seus pontos fortes no palco.
Sempre de tênis ou sapato baixo, matando a sede na caneca de cerveja e conversando com o público de forma descontraída no intervalo das canções, conquistou uma legião de fãs por todo o país. Da gravação do primeiro DVD, em 2015, para o segundo, em 2016, saltou de 30 para 40 mil espectadores no show. E não parou mais.
O ponto forte foi o audacioso DVD “Todos os Cantos”, em 2019, gravado em todas as capitais do país com shows surpresa, gratuitos, anunciados por panfletagem nas ruas. A megaturnê virou uma série documental, exibida no Globoplay em setembro.
Mas na live que a sertaneja realizou nesta quarta (8), agora com carreira consolidada e logo após retornar da licença-maternidade, o que chamou a atenção foi o resgate do seu jeito peculiar de cantar. Sem rodeios, sem luxo, deixou brilhar o vozeirão enquanto se adaptava ao novo formato de transmissão em tempos de quarentena.
De chinelo, ela errou letra de músicas antigas, pediu toalha para enxugar o suor, reclamou de ter que cantar em pé, pediu para parar e fazer xixi. Confundiu câmeras, se perdeu no celular ao dar aquela espiadinha no Twitter. A transmissão teve problemas técnicos e travou bastante, mas nada que a impedisse de dominar nove de dez assuntos mais comentados da rede social no Brasil. Liderou também a lista mundial, registrando 4,8 milhões de tuítes sobre o assunto.
As três horas e meia de show englobaram sucessos de toda sua carreira, com canções como “Infiel”, “O Meu Cupido é Gari”, “Supera”e “Todo Mundo vai Sofrer”, e também serviram para arrecadar doações para famílias afetadas pela crise do coronavírus. Assim como na live de Jorge e Mateus, Marília Mendonça parou para ouvir o recado do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que agradeceu por ela “estar fazendo live e não aglomerando as pessoas”.
Teve espaço para merchandising? Sim, e muito. Ela tirou o tênis para colocar um chinelo Havaianas. Falou que estava com vestido da Riachuelo, pediu para os fãs comprarem ovos da Páscoa no aplicativo das Lojas Americanas e ressaltou a parceria com a rede Stone para receber as doações. Mas também teve sofrência, modão, e um sem-fim de músicas que ela cantou sem desafinar, e sem perder o bom-humor.
O saldo da noite foi positivo: mais um show online bem-sucedido, com três milhões de acessos simultâneos, tradução para libras, fãs felizes, alimentos arrecadados e marcas expostas. Se, em tempos de coronavírus, o tête-à-tête não é possível, o tela a tela é. E está rendendo bons frutos para a cena musical que vive com o YouTube.
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