Três ótimas séries que falam de racismo e negritude nos anos 1900, 1970 e 2010

Após a tragédia com George Floyd, homem negro de 46 anos que foi morto ao ter seu pescoço prensado no chão por um policial branco, reverberam em todo o mundo manifestações antirracismo.

Quem está em casa por causa da quarentena pode aproveitar o momento de reflexão para assistir a três ótimas séries que este blog sugere e que têm, entre outros assuntos, racismo e negritude como temáticas. O legal é cada uma se passa em uma época, e em diferentes contextos. Aviso: esse texto pode conter spoilers!

E você, que séries te inspiram nesse momento? Escreva para pitacocultural@gmail.com e envie sua resenha. Não esqueça de mandar nome completo, profissão, idade e cidade.

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Anos 1900: “A Vida e a História de Madam C.J. Walker”

Como uma filha de escravos que era violentada pelo marido e lavava roupas para sobreviver se tornou a mulher negra mais rica e poderosa dos EUA no início dos anos 1900? É essa história real que baseia a série disponível na Netflix.

Octavia Spencer dá vida a Madam C.J. Walker, que fez sucesso com seus produtos de beleza no início do século 20 e foi a primeira mulher negra a se tornar milionária com o próprio trabalho –entrando inclusive para o Guinness, o livro dos recordes.

Mais do que divulgar seus produtos milagrosos para o cabelo de forma eficiente, ela se torna símbolo de uma beleza real, tratando as mulheres afro-americanas e suas demandas de igual para igual.

É claro que a série adota tons ficcionais quando cria um ringue para opor Madam C.J. Walker e Addie, sua rival na época. Mas retrata também questões importantes e que de fato a empresária fez, como empregar trabalhadores afrodescendentes durante toda a execução de seu negócio –realidade muito restrita dada a segregação da época–,  e doar dinheiro para escolas e universidades focadas na formação de negros americanos.

Octavia Spencer em cena da série "A Vida e a História de Madam C.J. Walker" (Reprodução)
Octavia Spencer em cena da série “A Vida e a História de Madam C.J. Walker” (Reprodução)

Anos 1970: “This is Us”

A saga da família Pearson e sua capacidade de ressignificar a dor é o lide dessa bela e aclamada série, disponível na Prime Video. Apesar de se passar nos dias atuais, ela volta a todo momento para o fim dos anos 1970 e começo dos anos 1980, quando os filhos de Jack (Milo Ventimiglia) nascem. Jack e Rebecca (Mandy Moore) têm gêmeos e adotam também Randall, criança negra que foi abandonada no Corpo de Bombeiros e está na maternidade.

Sempre que joga luz à história de vida do menino adotado, a série debate racismo estrutural. O pai biológico de Randall precisou abrir mão de criá-lo, na década de 1970, por questões sociais; Jack e Rebecca o adotam e têm dificuldade para inserir o filho em sua bolha formada por pessoas brancas.

Famílias inter-raciais eram pouco comuns na época. Os pais se veem presos a questões simples, como passar ou não protetor solar no menino, e não conhecem líderes negros que possam servir a ele como referência. Ficam divididos na hora de incentivar a ida do garoto, já adolescente, para Harvard ou Howard (esta última, universidade historicamente negra).

Randall é preterido pelo irmão adotivo, Kevin (Justin Hartley), e pela avó materna. Mas o caminho tradicional da narrativa é rompido quando ele, incrivelmente inteligente, acaba se tornando o mais bem-sucedido dos irmãos, e encontra em sua família a força para buscar suas origens.

Anos 2010: “The Good Fight”

Disponível na Prime Video, a série é derivada da bem-sucedida “The Good Wife”. Traz mulheres fortes e se passa dentro de um escritório de advocacia de elite, formado majoritariamente por profissionais negros –até que Diane (Christiane Baranski) passa a ser uma das sócias e leva sua afilhada Maia (Rose Leslie).

O texto da série foi mudado após a eleição de Donald Trump, e não nega esforços ao levantar bandeira contra o presidente americano. Teve trecho de um dos episódios censurado pela CBS, canal em que é exibida nos EUA, e colocou no lugar uma tarja preta com a mensagem “a CBS censurou este conteúdo”.

Mas, à parte das polêmicas, o roteiro de “The Good Fight” é brilhante ao mostrar, ao mesmo tempo em que empodera, debates raciais presentes até em uma firma considerada preta.

Lá pela terceira temporada, traz a tona discussões de diferença salarial entre brancos e negros dentro do escritório e o esplêndido episódio “The One where a Nazi Gets Punched” (Aquele em que um Nazista Leva um Soco), sobre um grupo que intimida eleitores na zona rural de Illinois. Nele, um negro explica por que um nazista merece apanhar.

Cena da série “The Good Fight” (Reprodução)