Com shows online para 20 participantes, O Teatro Mágico interage com fãs na quarentena
A pandemia do coronavírus obrigou todos a se reinventar. Mas, mesmo com a reabertura gradual das atividades em alguns estados, muitos setores ainda vão demorar para retomar as atividades. O entretenimento talvez seja um dos casos mais representativos, já que shows, festas e eventos formam aglomerações.
Enquanto grandes artistas do mainstream migraram para lives superproduzidas para sobreviver na quarentena –algumas gerando críticas pela quantidade de pessoas envolvidas e excesso de bebida–, outros, mais independentes, apostam no contato com o público. É o caso d’O Teatro Mágico, que passou a oferecer seus shows para grupos de 20 pessoas por vez, por meio de um aplicativo de videoconferência.
Mais do que cantar, o objetivo é interagir com todos os participantes –motivo pelo qual a live passou a ser chamada de experiência. “Meu irmão e parceiro de composições, Gustavo Anitelli, surgiu com a ideia. Ele viu que o público, além de me querer ali, na sala de casa, quer saber como o artista que gosta está atravessando esse momento de pandemia também”, explica Fernando Anitelli, que encabeça a trupe.
Para participar, o interessado compra o ingresso, que custa R$ 50, e escolhe o dia que quer assistir à live. A partir de então, começa a experiência. A equipe d’O Teatro Mágico monta um grupo de WhastApp com os 20 participantes daquela sessão, e é por ali que todos se conhecem, definem as músicas que querem ouvir e pensam em qual história vão compartilhar com o artista. Cada participante tem três minutos para conversar com Fernando Anitelli.
“Quando faço um show em São Paulo, eu toco para quem está em São Paulo. Mas na experiência falo com pessoas de todos os lugares e consigo fazer a plateia se multiplicar por todo o planeta. Tem uma carga emocional grande. Posso ver aquele menino que não tem nem forro no teto da casa, mas pega R$ 50 para me assistir”, diz Anitelli.
Durante a apresentação, o músico canta dez músicas escolhidas pelo grupo e nos intervalos conversa com cada fã. A ideia é que os participantes compartilhem suas histórias, poemas e músicas.
A experiência já contou com relatos emocionantes, juntou mãe que mora em Ilhabela (SP) com filha que está na França e serviu de palco até para pedido de casamento. Virou opção de entretenimento para empresas, que compraram o show para os funcionários em home office. “E tem mais um detalhe que é o lado sustentável. Ninguém corre risco nenhum. Já tocamos para mais de 1.200 janelas [do aplicativo] sem colocar ninguém, nem público, nem banda, em risco.”
Além disso, segundo Anitelli, o formato deu oxigênio para a banda e para o público no período da quarentena. “A arte foi a primeira a parar com a pandemia e vai ser a última a voltar. As grandes empresas vão patrocinar os grandes artistas; elas patrocinam quem na verdade não precisa. Quem é menor não pode ficar esperando. Tem que cuidar do fã, se relacionar diretamente com ele, honrar o público”, diz.
“Lá na frente, as pessoas ainda vão falar que os artistas ‘são vagabundos, jogar pedra na Geni’. Mas queremos transformar esse pensamento, mostrar na prática o que estamos fazendo e o quanto as políticas públicas são importantes.”