Na quarentena, jornalista supera depressão e cria padaria delivery de fermentação natural

O impacto do coronavírus na vida das pessoas vai além da saúde física e do distanciamento social. Como já relatado em pesquisas, a pandemia aumentou a depressão e a ansiedade na população brasileira. De acordo com um estudo realizado por cientistas da Unicamp, da UFMG e da Fiocruz, sentir-se triste passou a ser algo rotineiro para 39% dos paulistanos.

A jornalista cultural Luiza Wolf, 31, moradora da zona oeste da capital paulista, também chegou a endossar essa estatística. Com o fechamento de cinemas, restaurantes e teatros, viu os trabalhos no setor minguarem. Para ajudar, o pai ficou gravemente doente. Sem se alimentar direito e com falta de vitaminas, ele desenvolveu uma síndrome que lembra o Alzheimer. Ficou de cama, desorientado, e perdeu todas as memórias recentes.

“Foi um baque muito forte. Entrei numa depressão por vê-lo daquele jeito, e visitá-lo era sempre um grande esforço”, ela conta. “Fiquei mal, mas como já fazia terapia, resolvi procurar ajuda psiquiátrica logo”. Quando estava melhorando, Luiza decidiu tirar do papel uma ideia antiga: fazer pães de fermentação natural.

A padaria era uma vontade que a falta de tempo nunca deixava concretizar. “Para fazer o levain [fermento natural] do zero demora, no mínimo, uma semana. É um trabalho enorme. Então eu pensei: antes eu reclamava porque não tinha tempo, e agora estou reclamando porque estou em casa? Não tenho mais desculpas. Deu match.”

Foi assim que suco de abacaxi e farinha viraram fermento. E que água, fermento e farinha viraram pão. Após inúmeras tentativas, acertos e erros, outros pães começaram a surgir, e a ideia virou a padaria artesanal Do Forno da Lu.

Hoje, a fornada feita totalmente em sua casa, em um processo que leva aproximadamente 15 horas, conta com pães branco e integral, pão de azeitona, de azeite e alecrim, pão de calabresa e de chocolate. O menu inclui ainda antepastos, bolos e cookies, preparados às terças e sextas-feiras, mediante encomenda, e entregues por delivery.

Vi muita gente falando nas redes sociais: poxa, todo mundo postando fotos lindas de pães na quarentena e o meu não dá certo. Mas dá muito trabalho, demora muito tempo. É uma questão de exercitar a paciência e perseverança”, ela relata. “E o pão me reconectou com muitas pessoas. Na depressão, eu me sentia muito sozinha. Depois, muita gente veio me ajudar. Os pães mostraram que estava todo mundo ali, o tempo todo, do meu lado, mas eu não estava vendo.”

A padaria Do Forno da Lu também reconectou Luiza com um cliente mais do que especial: seu pai. A paulistana passou a fazer pão 70% integral, para não agravar a diabete, e a levar todas as semanas para o patriarca se alimentar. “Um dia liguei e ele me perguntou como estavam as vendas, se eu tinha muitas encomendas. Foi a primeira vez que eu o vi lembrando de alguma coisa recente. Ele lembrou da minha padaria”, ela conta.

O pão trouxe as pessoas para perto de mim, mesmo no isolamento social.”

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Do Forno da Lu. No Instagram e no Facebook. Whatsapp: (11) 98115-2559, de segunda a sexta, das 10h às 18h. Entregas na região oeste, mediante frete. Clientes fora do raio de entrega podem retirar ou solicitar entrega por Rappi.

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