Quero ser instrumento de reparação social, diz cantor pernambucano que lança clipe e marca LGBTQIA+

Ser artista independente, por si só, não é fácil. Mais difícil ainda é perpetuar a arte fora do mainstream em uma pandemia, quando muitas das opções de trabalho simplesmente acabam.

Mas foi na reclusão que o pernambucano Juan Guiã, 33, encontrou o caminho para lançar o clipe de “Te Alma”, música que vai integrar o álbum de estúdio que deve lançar em 2021. O trabalho, que fala de amor e conexões físicas e espirituais, chega junto com uma grife de roupas agênero, cujo lucro será revertido para o Instituto Transviver, que o cantor criou com a mãe em Recife há três anos.

No projeto, Juan atende a população LGBTQIA+ em situação de vulnerabilidade, oferecendo serviços como orientação para retificação de nome, ajuda psicológica, formação e aula de idiomas. Ainda que na pandemia, como ele mesmo diz, o trabalho tenha dado passos para trás. “Nossos assistidos estavam em outras camadas e voltaram a precisar de comida, de saneamento, de coisas que a gente já tinha ralado muito para mudar.”

“Sempre pensei em ser um instrumento de reparação social, em encontrar brechas no meu próprio cotidiano para fazer a diferença na vida de outra pessoa”, afirma o cantor. “Vejo como estamos aquém de São Paulo ou do Rio; não existem casas de acolhimento no nordeste. E isso reverbera totalmente nas pessoas que atendemos”.

Não é a primeira vez que Juan Guiã destina parte da arrecadação que tem com seu trabalho ao projeto –os lucros da música “Bacurau”, lançada antes da pandemia, também foram destinados ao Transviver. “Acho que isso inspira outras pessoas a pensar no coletivo. É movimentar, dar a ideia, dar a voz. Isso é muito potente”, diz.

Em “Te Alma”, o artista –que é dançarino desde os 14 anos e já atuou em “Malhação”, na rede Globo–, explora não apenas a música, mas também as artes cênicas em uma espécie de performance. Figurinos e adereços são de sua autoria. “Aprendi a fazer luz e cenários sozinho, olhando, vendo montagens. No começo não tinha como pagar um cenógrafo, um figurinista, um criador. Tinha que entregar tudo sempre muito andado”, conta. A direção musical é de Henrique Macedo.

Para lançar a grife de moda Te Alma, paralelamente à música, Juan contou com a ajuda de uma das assistidas do Instituto Transviver, Maju Andrade, que posou com o figurino. “Ela quer trabalhar como modelo, então consegui juntar as duas coisas”, conta. “Tento me movimentar para dar voz àqueles que não têm. A gente não tem lugar de fala em determinados pontos, mas é muito importante quando entendemos e passamos a conviver com eles.”

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