Em temporada presencial, peça em SP fala sobre amizade e autoperdão
Na noite de Réveillon do ano 2000, passagem para 2001, Ian está sozinho. Pouco antes da virada do milênio, o rapaz relata em um gravador suas lembranças e a culpa por, meses antes, ter ultrapassado com o carro um sinal vermelho –atitude que custou a vida de seus familiares.
A noite seria permeada por memórias, solidão e dor se não fosse a chegada de Noah, seu melhor amigo, que tenta animá-lo e mostrar que há outros tantos motivos para se viver e esperar dias melhores.
Nesse contexto, os atores Luccas Papp, 28, e Leonardo Miggiorin, 39, conduzem a peça “A Bicicleta de Papel”, que retomou temporada presencial no Teatro das Artes, em São Paulo. O texto extremamente sensível conduz o espectador por uma conversa entre dois amigos de infância que estão se redescobrindo.
“A peça vem como um alento ao mostrar a solidão por um ponto de vista diferente”, relata Lucas Papp. “Ela é um ode à amizade e revela como podemos estar com as pessoas que a gente ama, mesmo que elas não estejam por perto”, complementa o ator –que não tinha nem ideia do que seria a pandemia quando escreveu o texto, há dois anos.
Com diálogos narrativos e muitas vezes provocativos, os amigos relembram sua trajetória e mostram a importância da superação e, principalmente, do autoperdão. Mesmo embasada por uma grande tragédia –a morte dos pais e da irmã de Ian–, “A Bicicleta de Papel” fala sobre amor, esperança e a sobre importância das conexões entre aqueles que se amam.
“Na pandemia eu tive depressão, meu avô morreu de Covid. Eu tive que me ancorar na minha família, nos meus amigos, em que estava por perto. Por isso digo que a peça bate um pouquinho em algum lugar de todos que a assistem”, relata Papp.
RETOMADA NA PANDEMIA
“A Bicicleta de Papel” entra em cartaz em meio ao abre e fecha das atividades consideradas não essenciais no Plano SP de quarentena do estado. “É um tema que levanta discussão”, conta o autor. “Antes de voltar, conservei seriamente com minha equipe e com o teatro para que todas as medidas de segurança fossem tomadas“.
Para receber montagens com público, o teatro delimitou a capacidade em 40% e só permite o uso de poltronas alternadas, de modo que os espectadores fiquem bem distanciados. O uso de máscara é obrigatório, há álcool em gel e organização na entrada e na saída, de forma que ninguém aglomere. “No fim, as pessoas estão muito mais aglomeradas dentro do shopping do que dentro do teatro, que fica dentro do shopping”, afirma Lucas Papp.
“Eu sei que existe um público muito pequeno, menor que o de bares e baladas, que precisa de arte para sobreviver. E o teatro também é meu ganha pão. Estar em cartaz é manter a arte viva e mostrar que é possível, sim, fazer cultura tomando todos os cuidados.”
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A Bicicleta de Papel. Teatro das Artes. Shopping Eldorado. Av. Rebouças, 3.970, Pinheiros, SP. Domingos, às 19h. Temporada prorrogada até 28/3. Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), em teatrodasartesp.com.br
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