Ir ao teatro na pandemia é um misto de angústia e esperança
Eu não pisava em um teatro havia dez meses.
Quem trabalha e consome cultura foi atingido em cheio pela pandemia do coronavírus. O entretenimento foi um dos primeiros setores a fechar e será um dos últimos a reabrir totalmente.
Mas, como tudo e todos, o teatro foi se adaptando. Centros culturais da capital paulista começaram a retomar a programação presencial com as mudanças de fase do Plano SP –ainda que timidamente, se compararmos com o que acontecia antes do “novo normal”.
Assistir a uma peça depois de tanto tempo, e ainda vivendo uma das fases mais críticas da pandemia, é angustiante.
Não pelo medo do contágio, propriamente. Não visitei todos os teatros que retomaram suas atividades, mas ouso dizer que as instituições sérias estão seguindo rigorosamente os protocolos de prevenção à Covid. É de interesse de todos, e delas, especialmente, que os espectadores estejam seguros.
A sessão que acompanhei, no Teatro das Artes, tomou todos os cuidados: cadeiras estavam pregadas (literalmente) para que as pessoas se espalhassem mais. Além disso, uso de máscara obrigatório; álcool em gel disponível na entrada; sinalização para distanciamento na fila; saída por fileiras, no fim do espetáculo, para evitar aglomeração na porta.
Mas é angustiante ver uma sala vazia. Primeiramente porque não é permitido vender todas as cadeiras disponíveis, o que colocaria a todos em risco. Depois porque, ainda assim, nem sempre os espetáculos estão com a capacidade permitida completa.
É que nem todos devem se expor e sair de casa. Nem todos têm dinheiro para comprar ingresso, dado a crise econômica que estamos vivendo. E talvez o público mal saiba que o teatro está voltando.
Imagem também como é, para o ator, não poder ouvir uma salva grandiosa de palmas ao retomar contato com o público?
Por outro lado, fortalecer o teatro e a cultura se tornaram sinônimo de esperança. Não entro nem no mérito das políticas públicas (que deveriam ser prioridade), mas também na importância do público ser protagonista deste espetáculo.
Há peças online com ingressos por valores super acessíveis —pesquisa Datafolha realizada em outubro mostra que, para 67% dos brasileiros, a pandemia democratizou o acesso à cultura na internet. Além disso, há outros presenciais acontecendo nos palcos de locais sérios e comprometidos com a segurança.
São dez meses de cultura apenas resistindo. Para que ela possa também existir, precisamos estar juntos.