Por que um mergulhador e um polvo vão te emocionar e até concorrer ao Oscar

“Professor Polvo”, lançado em setembro passado na Netflix, poderia passar pelo streaming como uma produção a la “National Geographic”. Mas eis que surge na lista de indicados ao Oscar 2021, e os holofotes se voltam de vez ao título. O que será que ele revela?

Comecei a assistir ao documentário pensando que permearia a vida marítima e suas peculiaridades –como de fato faz–, porém jamais iria imaginar que me pegaria com os olhos marejados e torcendo pela inesperada amizade entre um mergulhador e um molusco.

O filme acompanha Craig Foster, documentarista e mergulhador que explora as águas geladas de uma floresta de algas na África do Sul, no Cabo das Tormentas.

Em uma tentativa de desopilar e se curar de uma profunda depressão, em 2010, ele começa a mergulhar diariamente. Percebe então na água um animal estranho, escondido atrás em um manto de conchas: era a fêmea de um polvo.

Fascinado pela criatura, tenta se aproximar, mas ela retrai. Foster decide, então, mergulhar todos os dias no mesmo local, a fim de provar para o molusco que não era um predador.

O resultado dessa empreitada vale sua atenção e também a indicação ao Oscar, já que o filme esmiúça com imagens extraordinárias detalhes que nem artigos científicos conseguem ilustrar.

No 26º dia de mergulho consecutivo, o documentarista começa a ganhar a confiança do polvo. A reação que sela o começo dessa amizade é incrível e digna de deixar aquele nozinho na garganta.

Dia após dia, Craig Foster –até então declaradamente cético quanto aos sentimentos de seres não-racionais– vai se aproximando do polvo. Passa um ano inteiro acompanhando a rotina do molusco, que claramente permite que aquele humano entre em seu mundo secreto.

Nessa relação cada vez mais íntima passam a surgir, também, contradições. Até que ponto Foster deve só observar? Ele pode intervir? A presença dele pode mudar de alguma forma o destino daquela fêmea de polvo?

O fato é que a vida do polvo se entrelaça com o do documentarista, e o resultado é muito emocionante (não darei aqui o spoiler, é claro). Para além da vida marítima, os encontros ajudam a vida pessoal de Foster, que consegue sair da depressão e se conectar novamente ao filho.

Além disso, é também um minucioso registro científico, que culminou na criação do Sea Change Project, organização que visa proteger as florestas marítimas.

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