Peça online sobre professor gay que quer adotar joga luz à intolerância

Um professor casado, de cerca de 30 anos, quer ser pai e decide adotar uma criança. Mas a história que poderia ser corriqueira é envolta em tensão no espetáculo online “Monstro”, em cartaz de quinta a domingo, gratuitamente, até 11 de julho.

Léo, protagonista da peça, é um homem gay que tem o processo de adoção negado. É para esse filho que ele não chegou a ter –Téo, um garoto negro e que sonha em ser astronauta– que ele deixa uma mensagem, gravada em vídeo no celular.

“Conversei com vários casais homoafetivos que tiveram êxito no processo de adoção. Mas o percurso deles até chegar lá não foi só de flores”, explica Ricardo Corrêa, 35, que assina a dramaturgia e protagoniza a peça da Cia. Artera de Teatro. “Vivemos num país muito conservador e a luta dessas famílias, que são guerreiras e plurais, é o que utilizo na montagem”, conta.

As entrevistas que embasam o espetáculo do Teatro Sérgio Cardoso deram origem ao curta-metragem “Monstro Também tem Sentimento“, disponível no YouTube.

O protagonista Léo em cena da pela “Monstro” (Alice Jardim/Divulgação)

Tensão política e intolerância com o público LGBTQIA+ também são destaques da peça. “Monstro” mostra, por meio das reflexões de Léo, como a sociedade pode ser violenta e transformar o homem que quer formar vínculos e uma família em um monstro, uma pessoa que não é bem-vinda junto aos demais.

Professor de natação em uma escola particular de classe média-alta, Léo tenta falar sobre inclusão e aceitação com seus alunos, crianças, mas se vê alvo de ataques.

A Cia. Artera de Teatro pesquisa a temática há quase 20 anos –no espetáculo “Bug Chaser”, por exemplo, discutiu a relação entre o risco e o prazer contidos nas práticas de “barebacking” (sexo sem preservativo) e de “bugchasing” (quando alguém procura ter relações sexuais com HIVs positivos para ser infectado).

“Vivemos no país que mais mata LGBTs. O personagem recebe essa violência da sociedade, ele é um corpo que não é aceito”, explica Corrêa. “Mas acredito no papel da arte de dar voz e colocar um olhar utópico sobre o futuro, para que as pessoas tenham esperança de que algo vai mudar e se sintam representadas.”

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