Humorista da ‘Pifãizer’ lança especial de comédia e lembra: ‘A gente não existe só no dia que viraliza’
Desde o dia 9 de junho, ficou difícil ler qualquer notícia relacionada à vacina da Pfizer sem falar, ainda que mentalmente, “Pifãizer”. É que foi nessa data que o humorista mineiro Esse Menino, 25, viralizou ao ironizar as inúmeras tentativas –sem sucesso– da fabricante em vender o imunizante ao governo brasileiro.
O caso, revelado pela CPI da Covid, acabou servindo de base para a esquete que bombou nas redes sociais e que conta, até agora, com mais de 20 milhões de visualizações. “Inventei de fazer um vídeo sobre a notícia, e aí minha vida mudou”, relata o artista.
Mas o que parece sorte ou um tiro certeiro é o reflexo de uma carreira já consolidada no humor, e que dá agora novo passo com o lançamento do especial de comédia “Poodle”. O projeto audiovisual independente foi criado e gravado antes do vídeo da “Pifãizer”. Ele tem roteiro, produção e performance de Esse Menino, e conta com as participações das cantoras Duda Beat, Jup do Bairro e do jornalista Chico Felitti.
“Eu criei esse texto para ser feito no palco, ao vivo, mas quando vi que a pandemia não ia acabar, pensei: é isso [formato online] que eu tenho agora”, explica o comediante. Em “Poodle”, Esse Menino joga um olhar muito bem-humorado, e igualmente crítico, aos estereótipos e clichês que orbitam os gays –tanto no dia a dia quanto na mídia e na televisão.
Dividido em cinco atos — negação, revolta, depressão, barganha e aceitação–, o projeto de comédia usa as fases do luto para falar de um gay militante que “morre” dentro de si e acaba se tornando uma pessoa alienada.
“Pensei: e eu fosse cada vez mais matando esse militante que existe em mim, o que eu viraria? Viraria essa ‘bicha poodle’, uma gay pet que só faz graça para os héteros”, explica Esse Menino. Assim, o comediante desenvolve o especial mostrando um homem que se perde nas próprias convicções e acaba domesticado, caricato.
Esse Menino aborda padrões impostos aos LGBTQIA+ pela sociedade, pela mídia e a também critica a cultura do cancelamento. “Qual a forma mais fácil de [uma marca] pegar uma pauta importante e mostrar que está preocupada com ela? É falar: agora todo comercial vai ter uma pessoa preta, uma pessoa gay e pronto”, diz. “Mas esse comercial, muitas vezes, mostra que você só é aceito ao se encaixar em padrões. É uma lavagem de quem a gente é, uma homogeneização. Nós estamos felizes com isso?”, indaga.
O formato de “Poodle” não foi alterado depois que o artista viralizou. O roteiro inicial foi elaborado para um edital de micropeças da Prefeitura de Belo Horizonte, com cerca de 10 minutos, e acabou expandido para 40. Está disponível para compra por R$ 20 até esta sexta (20), e exibição até domingo, em uma plataforma colaborativa.
Depois, o projeto deve seguir para o YouTube ou algum streaming que se interessar. “Estou me vendendo mesmo”, brinca. “Quero juntar um dinheiro porque, possivelmente, no ano que vem essa galera vai olhar para mim e falar: ‘ai, não sei mais se ele está tão legal quanto era'”.
“Eu sei de vários artistas independentes que, na pandemia, não conseguem mais pagar as contas. Não acho que todo mundo tem que popularizar, mas sei da dificuldade e me sinto muito sortudo por fazer uma arte que atraia publicidade”, relata Esse Menino. “A gente não existe só no dia que a gente viraliza.”
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“Poodle”. Especial de comédia de Esse Menino. R$ 20. Ingresso: R$ 20, para evoe.cc/essemenino. Até 20 de agosto.
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